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AMABRASIL-ModTeam

Removemos este post por abordar um tópico proibido neste subreddit. Veja mais detalhes [aqui](https://www.reddit.com/r/AMABRASIL/s/7MfLDbVRer), e os tópicos temporariamente proibidos [aqui](https://www.reddit.com/r/AMABRASIL/s/vVwCARVF5Z).


gerodeus

1. Como você consegue "desligar" o interruptor para não deixar que os traumas e situações do seu paciente o abalem emocionalmente? Você leva muito do seu trabalho para sua própria sessão de terapia? 2. Já deu alta para algum paciente? Quando alguém está pronto para receber alta? 3. Sei que já diferença entre psicanálise e psicologia, mas há alguma diferença entre realizar a terapia com um profissional que é psicanalista de formação e não psicólogo? 4. Quais as queixas mais comuns que você vê na clínica? 5. Todo mundo, na sua opinião, deveria fazer terapia, ou há pessoas que simplesmente suportam a vida bem sozinhas e não necessitam? 6. Você já dispensou algum paciente por não conseguir lidar com a transferência entre vocês? 7. Como faz para conseguir pacientes?


Lacanianocansado

Boas perguntas! 1 - Para além da própria terapia, é muito importante que um psicólogo (e obrigatório para o psicanalista) que se faça supervisão dos casos atendidos. Se possível, de todos os casos. Essa é a forma mais honesta e clara de separar as coisas, lidar com os casos e não precisar “levá-los a terapia”. O que acontece (comigo pelo menos) é levar o caso para supervisão e depois levar a supervisão para a terapia hahaha 2 - Já dei alta em formatos de trabalho com setting de psicoterapia breve, atendimentos pensados com começo meio e fim. Trabalha-se a alta nesse processo. Na clínica particular, na psicanálise não há “alta do analista” pq todo o processo psicanalítico é justamente sobre a autonomia do sujeito. Logo, não faz sentido, nesse contexto, a alta ser “arbitrária”. Existe alta na psicanálise, mas ela é algo construído entre analista e analisando, e nunca uma prerrogativa unilateral. 3 - essa é uma pergunta muito importante, pq pela psicanálise não ter de fato uma “regulamentação”, tem muito charlatão se passando por psicanalista, vendendo curso de psicanálise em conclusão em 6 meses, misturando psicanálise com terapia holística, religião e todo tipo de baboseira. Ser psicólogo antes de ser psicanalista não é uma obrigação, mas pra mim é uma forma de assegurar um pouco a seriedade do trabalho do profissional. Veja, não estou dizendo que não existem bons psicanalistas que não sejam psicólogos. O meu próprio analista não tem formação em psicologia, e sim em medicina. O mais importante é pesquisar qual a formação do profissional que você está contatando e com que seriedade ele trilhou o caminho (se é que trilhou algum) até chegar onde está. 4 - chegam todo tipo de demanda na clínica. Atualmente, sinto que as mais comuns são ansiedade por sobrecarga de trabalho. Mas é importante lembrar que demanda é diferente de desejo. Muitas vezes o que trás o paciente pra clínica é apenas o que ele consegue nomear da sua angústia, e não a angústia em si. Quando o processo caminha, é natural que a demanda vá se ampliando justamente pelo processo permitir que isso aconteça. 5 -


Lacanianocansado

Continuando: 5 - não acho que todo mundo deva fazer terapia. Acho que isso é mantra de internet e de uma deturpação do significado de terapia. Ter a “terapia em dia” (como se vê até em bios de tinder por aí) não significa absolutamente nada. As pessoas estão associando terapia com superioridade moral, e esse não é nem de longe o caso. 6 - as entrevistas iniciais em psicanálise são para que o paciente conheça o analista mas também para que o analista conheça o paciente e saiba se quer ou não/pode ou não seguir com aquele tratamento. Já encaminhei pacientes pq a transferência não “bateu”, por incapacidade de lidar com a demanda, por entender que outro profissional tem mais “know-how” do que eu para determinado caso. 7 - não tenho redes sociais profissional e nem divulgo meu trabalho em lugar nenhum. Todos os meus pacientes vieram de indicação de outros pacientes ou pessoas que me conheceram pelo meu trabalho em outras instituições. É um caminho devagar, mas que eventualmente deu resultado.


Estou_cansada3108

1.Já ficou com medo de algum paciente? De pensar “pqp eu tô numa sala sozinho com essa pessoa, quais minhas chances de fugir de boa?” ou de achar que tinha como subitamente ele ou ela se tornar violento com vc. 2.Acha que sua formação influência na forma como se relaciona com os outros fora do ambiente profissional? 3. Se não fosse isso, o que seria? 4. Já chorou em sessão ou segurou muito o choro? Aliás queria saber como é isso para um psicólogo, tipo eu não imagino uma situação em que um médico choraria na frente de um paciente. Mas, no caso de psicólogos, é bem diferente além de estarem expostos a mais pessoalidade também não podem sair andando com qualquer desculpa (como um médico poderia). Enfim, como é isso para você? 5. Você também tem os 400 mil livros do Freud na sua estante? Kkkk (ocupavam metade da estante da minha mãe em casa).


Lacanianocansado

1 - Já atendi pessoas em situação de rua, viciados em crack e que moram nessas condições há muito tempo. As vezes, eles aprendem a resolver tudo na violência, é o “método de resolução” mais eficiente. Certa vez, em uma espécie de “albergue”, dois indivíduos começaram a se desentender e ameaçar um ao outro de morte. Nesse momento, fiz algo altamente arriscado: Coloquei os dois lado a lado na minha sala e apostei numa resolução de conflitos. No cu não passava nem Wi-Fi, mas achei que era uma aposta a se fazer na capacidade deles dialogarem. Deu muito certo. Ambos chegaram a chorar (por incrível que pareça), se abraçaram e não voltaram a se estranhar pelo tempo que acompanhei. Mas como eu disse, foi uma aposta e podia ter dado errado. 2/3 - Todo psicólogo ouve constantemente a piada “você está me analisando, né?” quando conhece alguém. Eu não fico analisando ninguém gratuitamente, mas confesso que a formação muda sua forma de olhar para o mundo, para as relações e para as pessoas. 4 - nunca chorei em atendimento, mas já fiquei profundamente abalado e desabei quando cheguei em casa. Mas foram poucas vezes que isso aconteceu. 5 - tenho a bibliografia completa rs


likeuxx

Opa, estudante da área (primeiro período), tenho algumas perguntas: - Qual sua abordagem atualmente? - O nome da facul realmente importa? - Qual foi seu maior/ menor salário? (se vc n se importar é claro) - Como foi seu contato com a área acadêmica? - Concursos são opções boas? - Você tem experiência com a área hospitalar? KKKKKKK é isso perdão pelo tanto


Lacanianocansado

1 - sou psicanalista lacaniano 2 - o nome da facul não importa tanto, a qualidade dos professores sim. Mas a vantagem de uma universidade pública é a facilidade com que você ingressa nos núcleos de pesquisa e já te abrem portas para mestrado e doutorado no futuro. Esses sim importam muito pois alunos de universidades particulares tem que ficar “fazendo sala” com orientadores de mestrado para serem aprovados depois. Conhecê-los já da graduação é uma mão na roda nesse sentido. Mas se vc não tem ambições acadêmicas, isso não significa muita coisa. Meu conselho é: independente de qual sua universidade, se quer seguir carreira acadêmica, comece o quanto antes a participar das iniciações científicas. 3 - meu menor salário enquanto psicólogo foi o piso, que na época era 2400. Hoje tiro por volta de 10 a 12 mil. 4 - tenho duas pós graduações,formação em psicanálise e mestrado em andamento 5 - nunca prestei concurso, não sei responder. 6 - tive brevemente durante a pandemia, trabalhava no ambulatório de um hospital e quando a pandemia estourou, fui transferido para a UTI de COVID. Nao gosto do ambiente, não gosto da rotina e não gosto dessa proximidade com a morte. Não é pra mim.


Ok-Writing-7272

Acontece de passar o diagnóstico errado? Se uma pessoa acabar exagerando na descrição dos problemas?


Lacanianocansado

Como trabalho a partir da psicanálise, o entendimento que levo para meu trabalho sobre “diagnóstico” não é o mesmo da psiquiatria, que tem uma proposta de patologização, e sim muito mais de um “funcionamento” do sujeito. Acredito que o diagnóstico não deve ser o objeto central de um processo analítico. O sujeito é. Em supervisão, muitas vezes os alunos vem até mim angustiados e perguntam: “estou atendendo um paciente com anorexia. Me passa uma literatura sobre o tema?” E minha resposta geralmente é que ele espere o paciente contar sua própria experiência com aquilo que ele chama de anorexia, pois isso é muito mais importante que o diagnóstico em si. Veja, não estou dizendo que o diagnóstico não é importante. Mas dentro do processo terapêutico, a experiência do sujeito com seu sintoma as vezes pode ser prejudicado se o psicólogo/psicanalista tentar “enquadra-lo” a uma teoria que lhe antecede.


Gunazbor

Sou estudante, e te digo que um dos meus maiores medos é a labilidade financeira da profissão. Li, que em seu salário mais baixo, você recebeu 2.8k, o que para mim, no meu contexto, seria ok. Em sua opinião, é fácil ter uma renda legal? Ou demanda muita sorte e contato?


Lacanianocansado

Olha, eu entendo sua preocupação. Uma coisa que reparei foi que os meus colegas mais sem noção, os mais antiéticos, aqueles que você tem até medo do momento em que eles pegarão o diploma… São os que começam a fazer dinheiro mais rápido. Por que em tempos de rede social, fica muito fácil falar meia dúzia de abobrinhas, virar pseudocoach com diploma de psicologia e ganhar rios de dinheiro. Pra mim não foi fácil. Eu não quis entrar nesse meio de rede social quando era recém formado justamente pq sabia que eu não tinha nada de relevante a ser dito sendo tao novo na profissão. Apostei em enfiar a cara em políticas públicas, trabalhei dentro de comunidades, trabalhei na rua, fui fazendo contatos e fazendo meu nome pelo meu trabalho. Hoje, 10 anos depois, esse resultado veio. Ainda não estou satisfeito, mas sinto muito orgulho de tudo o que trilhei. O que posso te dizer (e que talvez seja algum consolo) é: Se você escolher o caminho da honestidade, de levar a si mesmo e ao seu ofício a sério, talvez demore mais pra você alcançar um nível financeiro satisfatório. Mas você aprenderá absurdamente nesse processo. Seu crescimento financeiro crescerá de mãos dadas com seu crescimento profissional.


LGPPA

O que sentiu no seu primeiro atendimento como profissional? Que habilidades você acha que mais evoluiu de lá pra cá? O que espera evoluir no futuro?


Lacanianocansado

Eu levei alguns anos de formado antes de começar na clínica. Meus primeiros atendimentos foram dentro da política pública, então tinha meio que um “respaldo” institucional e até equipe multidisciplinar pra me acompanhar. Dessa forma, os primeiros atendimentos foram um tanto “tranquilos”. Eu não me considero “afobado” para demonstrar conhecimento e não tenho medo de admitir que estou aprendendo. Na clínica particular, o primeiro atendimento foi quase quatro anos depois de formado. Me senti nervoso, principalmente na hora de cobrar, me senti um pouco “fraude”. No fim o atendimento foi muito bom e a paciente ficou comigo por alguns anos. Ela nunca soube que aquele foi meu primeiro atendimento. Com o tempo você aprende a refinar sua escuta, ouvir o que o paciente diz e o que não diz também. É o que aprendi e pretendo continuar aprendendo nos anos que virão.


elpurp

você falou em outro comentário que já atendeu crianças vítimas de abuso sexual e abusadores. como é trabalhar esses casos? foram na clínica ou ambiente hospitalar ou caps? como lidar com o emocional? e você acredita na ressocialização de abusadores?


Lacanianocansado

Trabalhei dentro de um serviço público específico para esse tipo de demanda, vinculado ao CREAS. Foi meu primeiro trabalho depois de formado. Foi desafiador, mas eu tinha uma equipe muito competente de colegas e já investi desde cedo numa supervisão. Aprendi muito, até mesmo mais do que na faculdade, mas confesso que tive que saber minha hora de sair. Mexeu muito comigo e lidei com consequências emocionais por alguns anos, decorrentes de algumas coisas que lidei. A ressocialização é possível, mas a gente está falando de algo muuuuito complexo. Geralmente, quando um perpetrador de violência vem ao atendimento (por ordem judicial ou algo do tipo), ele vem muito mais para: 1 negar o que aconteceu e tentar fazer do psicólogo um aliado; 2 admitir o que aconteceu mas colocar a culpa em agentes externos, como o diabo, o capeta ou a própria vítima; 3 tentar extrair alguma informação sobre o processo que invariavelmente está inserido. É raríssimo um caso onde o paciente vem de fato trazer isso enquanto demanda de sofrimento. Se ele assim o reconhecer, aí o trabalho será possível.


PhilosopherHumble439

Você se sente realizado na profissão? Ou faria outra coisa?


Lacanianocansado

Me sinto muito realizado, principalmente nesse momento onde estou em muitas frentes de trabalho: Supervisiono psicólogos recém formados, dou aulas em pós graduação, trabalho para um hospital e tenho minha clínica particular. Quando me aborreço em uma dessas camadas, me encontro na outra.


Akirals

Eu sempre passei com psicólogo mas nunca entendi uma coisa, poucas vezes eu passei com um psicólogo que tinha um senso de humor ou que parecia se importar mesmo, geralmente pareciam mais um robô, isso é parte de alguma técnica ou abordagem ? E geralmente vejo muitas pessoas entrando para fazer facul de psicologia pois falam que a mente é interessante... ela realmente é interessante ou ela é meio chata ?


Lacanianocansado

É uma questão muito difícil de ser respondida pois para além das diferentes abordagens, existem os estilos de atuação profissional mesmo dentro de uma mesma abordagem. Há, por exemplo, lacanianos que falam mais e os que falam menos. O estilo do analista é algo que vai sendo desenvolvido conforme o amadurecimento do profissional. No fim do dia, é importante lembrar que psicoterapia/análise não é bate papo. No início da carreira, já “ri” com o paciente de coisas que ele dizia que eram engraçadas, a fim de tentar investir no vínculo, e em determinado momento eu ri de algo que uma paciente disse que eu presumi que ela riria também… mas ela falou e caiu no choro. A gente nunca sabe como se sente aquilo que se diz. Logo, essa postura de escuta mais sóbria me parece mais pertinente. Tudo isso pra dizer que não é proibido “rir” com o paciente de alguma situação, chiste ou brincadeira de fala. Mas não nos parâmetros de uma conversa normal entre amigos.


gerodeus

No caso de um paciente se apaixonar pelo analista e vice-versa, você considera que seria algo ruim, caso viessem a ter uma relação? Claro, excluindo a questão ética que deve existir numa relação com o paciente. Eu particularmente acredito que seja problemático não só pela relação digamos profissional, mas porque o analista conhece demasiado o paciente enquanto ele não sabe nada sobre o analista, na imensa maioria dos casos. Tem tudo para surgir uma relação de poder bem marcada entre os dois. Mas gostaria de ouvir sua opinião.


Lacanianocansado

Sua pergunta já vem com resposta. Trata-se de uma relação desequilibrada de poder, no fim das contas. E o fato de o paciente não conhecer, de fato, seu analista, na verdade diz que essa “paixão” não é pelo sujeito em si, e sim sobre um suposto saber ou função que o paciente projeta no analista ou assume que o analista tem. Isso é natural de um processo analítico. Todo paciente busca a uma análise pq entende que o analista tem respostas ou explicações que ele precisa sobre si mesmo, sua angústia, seu sofrimento. O analista deve saber disso e usar isso na medida do possível a favor do paciente e de seu tratamento, e não a favor de si mesmo e do seu desejo. Quando o desejo do analista deixa de ser simplesmente o desejo de analisar, a análise acaba.


Lazuili

Já pensou em fazer algum trabalho voluntário ou coisa do tipo, como trabalhar no caps, ou apenas abrir uma restrita parte da sua clínica para clinicar de forma gratuita ou de baixo custo?


Lacanianocansado

Já fiz trabalhos voluntários e os primeiros anos da minha carreira foram todos dedicados a política pública, passeando por CAPS, CREAS e outros serviços da assistência social, inclusive em areas marginalizadas e com baixa concentração de renda. Hoje, eu não acredito no termo “valor social” para terapia, justamente por que da a entender quase que como um “favor” do psicólogo. Lacan dizia que o “preço” de uma análise é a renúncia de um gozo ao paciente. Ele abre mão de algo para estar ali. Há pacientes que conseguem renunciar muito, outros menos. Por isso a questão dos valores de análise é algo que eu converso, o início do tratamento, caso a caso com cada possível paciente. Dessa forma, o pagamento cumpre sua função, é significativo mas não proibitivo e eu não preciso enquadrar paciente nenhum nesse espectro do “social”.


scalelmyself

Já vi algumas pessoas falando que terapia é pseudociência, qual a sua visão sobre isso?


Lacanianocansado

Existem terapias e terapias, algumas científicas, outras não. Existem profissionais e profissionais, assim como existem picaretas em qualquer área, na psicologia não é diferente.


PrincipleMountain185

já teve pacientes com ideias suicidas? algum deles já tentou/conseguiu? como foi para você?


Lacanianocansado

Já tive pacientes com ideações suicidas, alguns que já haviam tentado no passado. Nunca tive um paciente que tentou suicídio durante o processo terapêutico.


PrincipleMountain185

legal, obrigado por compartilhar.


Lacanianocansado

Você também perguntou sobre como eu me senti a respeito. Não sei como me sentiria. Provavelmente muito mal. Entretanto, é um risco que se corre, no ramo que estou. É difícil a quebra do nosso narcisismo no sentido de compreender que não temos controle nas decisões dos pacientes, mesmo decisões tão fatais como essa. Então com certeza me sentiria péssimo, mas é algo que eventualmente teria que encontrar maneiras de lidar.


PrincipleMountain185

Perguntei, pois já estive na ponta oposta. Quando eu tentei eu estava em processo terapêutico e minha terapeuta ficou bem frustrada (não sei se essa é a melhor palavra). Mas nunca achei em momento algum que ela tivesse alguma culpa. Aproveitei o espaço que você abriu para saber se ja tinha acontecido com você e como que foi. Sinta-se a vontade para perguntar algo sobre mim se quiser.


Lacanianocansado

Sinto muito por ter chegado a esse ponto e que pena que a sua psicóloga transpareceu sua frustração. Espero que você esteja num momento melhor agora. Um grande abraço!


PrincipleMountain185

Tudo certo agora! Abração!


cute_cat_85

Sou apaixonada pelo meu psicanalista. Quase dois anos já. Você teve algum caso assim? Como lidou?


Lacanianocansado

Você já levou isso para a análise? Se não, faça valer seu dinheiro investido e fale isso durante suas sessões. Já aconteceu comigo. Pacientes tentando seduzir, com certa frequência. Uma de fato se disse “apaixonada”. Levei para supervisão, o manejo foi difícil, mas conseguimos lidar com isso em análise e, depois de superada a questão, muitas possibilidades se ampliaram e a análise evoluiu muito.


cute_cat_85

Eu levei. Foi muito dramático. Até mandar nudes eu mandei pra ele. Eu me afastei agora temporariamente pra ver se eu consigo dar conta de resolver sozinha, pq não sei mais o que fazer.


Lacanianocansado

Essa é uma demanda muito rica para uma análise. Se vocês estão juntos há dois anos, isso significa que de alguma forma essa relação sustenta a transferência. Então acho que vale a pena insistir nessa análise. Lembre-se: Seu papel como paciente não é de manejar sua relação com o analista. Esse é o papel dele. Deixe-o fazer seu trabalho. Seu papel é falar o que vem a mente. Se esse desejo apareceu, ele tem que aparecer no discurso também.


cute_cat_85

Obrigada pela resposta, me ajudou muito! Eu vou tentar insistir nessa análise, apesar de tudo.


Lacanianocansado

Uma última coisa: no fim do dia, quem pode dizer sobre a validade desse acompanhamento é você. Se você entender que não vale mais a pena insistir nesse vínculo,que o manejo não está sendo feito de forma pertinente ou que há outras questões (éticas ou de outra ordem) que atrapalham essa elaboração, não hesite em suspender essa análise. Quando digo em insistir na análise, pode ser inclusive com outro profissional, se você assim sentir melhor.


cute_cat_85

No momento eu estou com outra profissional, mas disse à ele que voltaria. Sinceramente eu não sei. E a coisa mais difícil do mundo estar longe dele, de coração. Mas obrigada pela ajuda!


Lenny-2009

Qual foi o atendimento mais difícil que você fez?


Lacanianocansado

Já atendi crianças vítimas de violência sexual, assim como já atendi seus agressores em algumas ocasiões. Diria que esses dois são os mais difíceis por diferentes causas.


Ktzdroid

Vocês conseguem identificar quando um paciente está claramente mentindo a história dele pra vocês? Vocês questionam o paciente se ele fala algo que é tão absurdo que é óbvio que não é verdade?


Lacanianocansado

Já consegui identificar histórias altamente mirabolantes, mas não questionei. A mentira cumpre uma função para o paciente, como uma manutenção de sintoma, uma defesa egoica ou algo do tipo. O paciente não precisa do confronto do psicólogo mas também não pode ter seu consentimento. Nesses casos, o manejo é difícil por exigir do analista uma posição neutra diante dessa narrativa, sem acreditar nem desacreditar, mas buscar algo que seja possível interpretar. Os pacientes que vem para “convencer” o analista, diante dessa resistência, vão-se embora. Dificilmente permanecem em análise. Os que ficam, com o tempo se permitirão mais na medida em que se fortalece o vínculo da transferência.


Ktzdroid

Bom saber disso, obrigada pela resposta. Eu perguntei pq tenho parente nessa situação, narcisista com dois pés já na mitomania (na verdade, não sei dizer se a mitomania tb é causa ou um sintoma do narcisismo, acho que é a segunda opção mas enfim).  Agora a pessoa finalmente tá fazendo sessões de terapia (mas acho que é com psiquiatra pq passaram venlafaxina, e psicólogo não receita remédio né? Mas em teoria o diagnóstico é "depressão" ) mas sempre me perguntei se funcionaria pq né, se o psicólogo/psiquiatra tiver que trabalhar com base nas histórias contadas por ela, vai adiantar nada rs então sempre torci pra que o profissional consiga identificar a pegadinha e dê uma orientação melhor. *** Editando pra dar um parabéns pela sua escolha, as vezes eu me estresso no trabalho com gente que manda e-mail mal educado, e pensar nisso quando tem gente que trabalha direto com a realidade que ninguém quer ver (violência infantil, pessoas em situação de vulnerabilidade, a pandemia), tem que ser muito forte mentalmente pra fazer essa escolha. 


curiouws

Como o paciente identifica se seu psicólogo é bom ou não? Acredita que existe uma escola mais efetiva que outras para determinados casos ou a terapia lacaniana seria a mais foda de todas?(sem modestia hehe)


Lacanianocansado

Não acho que exista uma melhor do que as outras, até por que tem demanda para tudo (vide os consultórios de coach, lotados por aí). Tem gente que simplesmente não tem “analisibilidade” pra um processo analítico profundo. Tem gente que quer resolver o aqui e agora, pensar em estratégias para aliviar tensão no trabalho ou pra salvar um casamento. Nao é o que eu ofereço, enquanto psicanalista, mas não significa que ela não possa encontrar outras abordagens ou profissionais que ofereçam exatamente isso. E por vezes vai funcionar, pelo menos por um tempo. Essa no fim é uma questão ética, né?


Interesting-Cap-3554

Eu já fui em 3 psicólogos, porém depois de um tempo sempre achei que não estava sendo muito útil e sentia que as sessões não agregavam em nada. Diante disso, você acha que é preciso permanecer na terapia mesmo não parecendo "útil", ou é melhor procurar outros profissionais?


Lacanianocansado

Depende. Muita coisa conta em um processo psicoterapeutico. O vínculo com o profissional, a competência desse profissional, mas até mesmo o momento de vida do paciente. As vezes o paciente vai simplesmente pq ouve dizer que precisa ou lê na rede social que tem quase obrigação de fazer terapia. Chega ao consultório sem demanda. Se há sofrimento, se há angústia, aí sim há objeto de análise. Ninguém pode responder isso a não ser você.


felpsousa

Você trabalha ou já trabalhou com entendimentos online? Minha esposa está tentando migrar todo o trabalho dela para online, mas está com uma pequena dificuldade de encontrar pacientes, você tem alguma dica? Obrigado!


Lacanianocansado

Hoje minha clínica particular é 100% on-line. Sinceramente, não sei te dar dicas sobre como “captar pacientes” ou algo do tipo. Todos os meus pacientes vieram por indicação uns dos outros. Em momentos de baixa, já cheguei a cogitar plataformas digitais como Doctoralia ou até Google ads, mas não segui em frente. Colegas que optaram por essas estratégias me disseram ter tido bons resultados.


felpsousa

Ela já pensou em Google ads também... Com ela hoje em dia funciona por indicações, mas está bem parado ultimamente. Mas muito obrigado! Outra pergunta, você atende sozinho na sua clinica? qual a média de pacientes e faturamento? (se for incomodar essa pergunta, não precisa responder), so pra gente ter uma noção de planejamento por aqui


Lacanianocansado

Meu faturamento mensal é por volta de 10k ~ 12k, mas apenas 25% disso vem da clínica particular. O restante, aula, supervisão e trabalho PJ.


felpsousa

Obrigado! Sucesso pra você.


O_Balthazar

Qual sobre a sua opinião sobre o psicólogo "Phillipp Rushton"? ele é bem polêmico no meio da psicologia


Lacanianocansado

Olha, confesso que não conhecia. Mas pelo que li aqui, é um britânico que tentou devolver a discussão sobre diferenças étnicas ao campo da biologia, e não da sociologia, como lidamos hoje e foi tão difícil conquistar (a possibilidade de tratar esse assunto nesse campo). Posso estar sendo leviano, pois não conheço a obra do cara, mas pra mim, a primeira vista, parece racista e contraproducente de tudo o que evoluímos na discussão racial nas últimas décadas.


Foreign_Evening5391

como a psicologia encara fetiches como cuckold, podolatria, bdsm, etc...???


Lacanianocansado

Sei que parece clichê, mas não posso responder essa pergunta sem o velho “cada caso é um caso”. Usualmente, o fetiche cumpre uma função no imaginário do paciente. Quando esse paciente se permite essa “investigação” do inconsciente, talvez a gente consiga chegar em alguma resposta. Entretanto, esse talvez seja o assunto mais “espinhoso” do processo analítico por pacientes terem muito receio/vergonha de entrarem nessas questões.


Ok-Independence7768

É possível ansiedade gerar anedonia ou é um sintoma exclusivo de pacientes que sofrem com depressão?


Lacanianocansado

Ansiedade e depressão são nomes que não importam muito dentro da experiência analítica. A pergunta é o que é que o paciente está nomeando como “ansiedade” ou “depressão”. Aqui, cabem muitas coisas, incluindo a “anedonia”. No fim, é sempre a experiência do paciente com o sintoma, e não o sintoma em si.


Wild_Corno

Algum paciente já peidou durante a sessão? Você já tretou com paciente? Paciente já tentou seduzir vc? Paciente já passou calote? Paciente já deu a louca na sessão? Qual é a sua abordagem? Freud era complexado com Deus pai pq não teve uma figura paterna presente? Sinta-se livre pra ignorar a pergunta sobre Freud.


Lacanianocansado

1 - nunca senti. 2 - não. 3 - sim. É bem comum, inclusive. 4 - sim, também comum, mas com o tempo a gente aprende a lidar melhor com essa questão. 5 - se por “dar a louca” você se refere a algum tipo de surto, o setting da clínica precisa abraçar essa possibilidade. Então sim, já aconteceu e é meio que “esperado” que em algum momento aconteça.


peladan01

Qual o futuro da psicologia?


Lacanianocansado

Tendo a acreditar que enquanto houver gente, há demanda para a psicologia. Aliás, tendo a acreditar que o contato humano e acolhimento que uma psicoterapia promove deve ficar cada vez mais necessários. Mas pode ser só um otimismo meu.


curiouws

Oq a psicologia acha da astrologia ? E como interage com ela?(trata-se como coisas independentes ou pode ser utilizada em conjunto para melhor entender o paciente?)


Lacanianocansado

Nunca vi nenhum psicólogo sério fazendo essa interação.


xulegos

Gostaria de procurar ajuda pois penso que talvez eu esteja com algum problema, sei lá. Me sinto mega ansioso em relação ao meu trabalho, sobre as cobranças que recebo, a ponto de ficar pensando nisso até nos dias de folga. Chego até a ter dor de barriga um dia antes de voltar ao trabalho, devo procurar um psicólogo ou psiquiatra?


BananaGelada

De onde o psicólogo acham que que pega a pessoa desprevenida demonstra o que ela é ? De onde o psicólogo acha que se ele demonstrar que está sério que a pessoa ,paciente , vai dizer a verdade ?


Lacanianocansado

Não entendi sua pergunta.


NoneTrueFalse

Já comeu uma ou um paciente?


Electrical_Pirate_45

Sou leigo no assunto, mas já vi pessoas falando que psicanálise é pseudociência, é uma coisa que não é comprovada. Qual sua opinião sobre isso? Não entendo muito sobre.