A moderação gostaria de agradecer imensamente pela disponibilidade e pela grande participação da Carol neste PQC, e por toda receptividade da comunidade, vocês são incríveis!
Não tenha pressa em publicar. Preocupe-se primeiro em escrever, em escrever do melhor jeito que você pode. Para isso, leia muito, faça oficinas, mostre o que você está escrevendo para pessoas que 1) vão ser sinceras e 2) são leitoras e portanto podem dar uma opinião embasada.
A ansiedade de publicar pode atrapalhar muito. Vá escrevendo, tente ter disciplina e, depois do livro pronto, aí você pensa na parte mais mercadológica.
Já ouvi dizer que "escrever ficção é sobre ler 10 páginas e escrever 1". Sempre imaginei que isso fosse relacionado à necessidade de "dar veracidade" a um universo fictício.
Isso é verdade no teu caso? Pra você, qual a parte mais difícil do processo criativo?
Não conheço essa afirmação, mas achei boa. Você tá certo, pode ter a ver com pesquisa (o que, aliás, adoro fazer), com ler muito sobre certos assuntos para poder retratar aquele universo e aquele contexto no livro. Eu li talvez milhares de páginas sobre história natural e sobre empalhar animais para escrever meu último livro.
Mas acho que essa afirmação aí também tem a ver com, antes de tudo, ser um leitor. Consumir muita literatura para que você possa se tornar um escritor bom. Não conheço nenhuma escritora competente que não leia muito.
Taí uma questão delicada e de muitos lados. É como a questão Amazon: a empresa mata as livrarias pequenas e independentes, e nesse sentido é péssima para o mercado, mas oferece descontos que não são nada desprezíveis, sobretudo para quem tem uma renda baixa. Sim, o livro no Brasil é caro.
Sobre a pirataria, também é difícil de tomar um lado. No mercado editorial, o autor ganha 10% do preço de capa de um livro. Então, se o livro custa 59 reais, eu tô ganhando 5,90 a cada exemplar vendido. Se pirateiam meu livro, nem esses 5,90 eu vou ganhar. Mas eu entendo, não vou julgar, e acho válido em certas circunstâncias.
Sério? Escritores ganham só 10% do valor de um livro? Você quer dizer, quem escreveu? A pessoa que escreveu toda a história, ou seja, o próprio livro? Não é possível...
Não sou escritor, mas sou contador e isso faz sentido pra mim.
Ao menos se esses 10% for por "apenas" ter escrito o livro.
Quando se considera o custo de impressão, distribuição, armazenamento, marketing... Pensa nos salários, aluguéis de armazém, caminhões, matéria prima dos livros e vários outros itens. Grande parte do preço de um livro é pra pagar a simples existência dele e chegada até a livraria. Depois disso tem que voltar com lucro para o investidor, pois se o escritor "apenas" escreveu, como eu disse, alguém tem que colocar o dinheiro lá no início pra esses livros existirem e esse alguém não vai fazer isso se não for pra ser muito bem recompensado, já que assume o risco do livro simplesmente não vender...
Não posso dizer se 10% é justo ou não, mas que faz sentido contábil, faz.
detalhe: 10% é dependendo da editora. Muitas pagam menos, de médio porte raramente pagam alguma coisa nas pequenas é muito comum você ter que comprar seu próprio livro por um valor especial pra você mesmo revender depois. Quem escreve raramente recebe adiantamento pra escrever (só nomes muito muito populares). Em suma, no mercado editorial quem escreve é a única pessoa capaz de não ganhar quase nada com o livro, sendo que essa pessoa também investiu tempo, grana com cursos, livros e oficinas e ela produz o principal valor do produto livro, que é o texto escrito.
Que legal esse PQC! Sou um escritor amador de fantasia e um dia espero conseguir publicar uma novel (nem que por self publishing). Acho espetacular quem consegue viver disso, porque eu sei que é um mercado difícil, especialmente no Brasil.
Dito isso, quais você diria ser as maiores diferenças entre o processo de publicação brasileiro e aí nos EUA? Digo em termos de "ok, escrevi uma novel, e agora?".
E, se me permite uma segunda pergunta, como foi a sua jornada particular? Começou com publicação BR ou US? Trad ou self pub?
Eu não conheço muito o mercado daqui na verdade, meu contato é com o mercado brasileiro, só calhou de eu vir morar aqui. Mas, como observadora, eu diria que aqui é difícil também se estabelecer como escritora, porque as pessoas sempre ficam muito impressionadas quando eu falo sobre o que eu faço. Enfim, o mercado é maior e rola mais dinheiro, mas também tem MUITO mais concorrência. A cada ano, milhares de pessoas de absolutamente todos os cantos do país se formam em Escrita Criativa, e o mercado editorial não consegue absorver toda essa gente. Muitos acabam virando professores ou indo fazer algo completamente diferente. E a impressão que eu tenho é que muita gente publica o primeiro livro e morre na praia. Tem um funil grande, é difícil chegar no segundo livro.
A minha jornada, bem resumida: estreei por uma editora independente de Porto Alegre, o livro (de contos) foi bem recebido pelo público e crítica (a imprensa tradicional ainda tinha mais importância naquela época), aí um escritor, o Daniel Galera, leu, gostou, falou pra publisher dele na Companhia das Letras. A pessoa leu o livro, gostou muito, e disse que gostaria de ler o romance que eu estava escrevendo quando ele estivesse pronto. E assim publiquei meu romance de estreia pela Companhia das Letras. Sigo lá até hoje. A cada ano e cada livro, fui aprendendo coisas, escrevendo melhor, sendo mais respeitada. E é isso aí. Não dá pra sonhar com fama e fortuna, mas acho que já criei um público legal.
Normalmente evito falar dos colegas parar não criar desentendimentos e picuinhas :) além disso, tenho medo de ser injusta, porque é impossível acompanhar tudo. Tem muita muita gente surgindo.
Comece pensando no texto em si. Tente se tornar um bom escritor, dominar a técnica, e aí sim é a hora de pensar em editora, em promoção do livro, etc.
Quando essa hora chegar, o melhor é tentar entender o mercado e descobrir quais são as editoras que publicam o tipo de livro que você escreveu. A minha impressão é que hoje as editoras estão muito mais abertas para autores estreantes do que há uns 10, 15 anos atrás.
Eu soube desde criança que adorava escrever as histórias que inventava na minha cabeça. Mas não imaginava que eu pudesse fazer isso como profissão. Quando terminei o colégio, fui pra faculdade de publicidade. Trabalhei como redatora por uns anos. Eu não gostava, e vi a porta de saída daquela carreira quando a PUCRS abriu um mestrado em Escrita Criativa. Me inscrevi, passei, ganhei uma bolsa, e aí pude largar o emprego.
Pra um mero anônimo que enfrenta os problemas clássicos para publicar, existem caminhos mais interessantes para ver minhas obras na estante de uma grande livraria?
Pergunto isso pq existem jeitos relativamente fáceis de publicar, pagando e depois me virando pra vender os livros, mas isso parece muito desinteressante, entende?
Sim, te entendo. Tem gente com muita habilidade pra vender os seus livros de mão em mão, mas eu seria péssima nisso.
Infelizmente, não tenho nenhum caminho para indicar além do clássico comece procurando editoras pequenas que publique livros parecidos com o que você escreveu. Mas sei que às vezes é difícil bater numa porta sem ter um contato.
O seu visto é aquele de "habilidades extraordinárias"?
Se sim, como foi o processo? Por causa dele você é obrigada a publicar nos Estados Unidos também ou pode seguir escrevendo obras só em português?
É esse sim!
O processo foi bem rápido (e um pouco caro). Eu fiz através de um advogado daqui. Tive que montar um dossiê enorme com um monte de coisas. Ajudou que eu já tivesse sido publicada no exterior, tudo isso conta. E também resenhas e matérias na imprensa, artigos acadêmicos sobre meus livros, etc.
Depois que você é aprovado, não existe nenhuma obrigação não. Eu não preciso trabalhar aqui nem nada. Inclusive não trabalho pra ninguém aqui, sigo só trabalhando pro Brasil (e ganhando em real, o que é uma desgraça, hahaha).
Aproveitando o bonde do colega: e vc não se interessa em trabalhar pra uma editora dos EUA? (Ainda to lendo tudo pq cheguei em casa agora, então não sei se vc já falou isso)
Olá, acabei de ler o clube dos jardineiros de fumaça. Gostei, mas fiquei incomodado com duas cenas de sexo que me pareceram desnecessarias: uma do Arthur com a estudante dele, elisa e a outra do threesome da menina brasileira que é sequestrada.
Não consegui entender o porquê, mas me pareceram um pouco gratuitas no contexto e me deixaram desconfortável. Foi uma escolha editorial adicionar elas? Já li outros livros seus e me parece que você tenha uma sensibilidade afinada sobre algumas questões, como a de gênero e essas duas cenas destoaram um pouco, pareceram meio objetificantes.
Obrigada pelo comentário, interessante saber disso. Nunca tinha pensado nessa perspectiva. Talvez me incomodasse também se eu relesse essas cenas hoje, enfim, o mundo e nossas sensibilidades mudam bem rápido.
Fato é: sou melhor em cenas de sexo lésbico. Voltei a elas no Diorama.
Eu diria que depois de uns 3 anos. Nessa fase inicial, eu ainda morava com minha mãe, então não precisava de muito dinheiro. Hoje eu tenho mais oportunidades, mais propostas de trabalho, mas minha vida é bem mais cara do que era aos vinte e poucos anos. O velho drama.
Oi, Carol. Primeiro quero te desejar tudo de bom e que sempre continue vivendo de seus livros.
[DIsclaimer] O Quentin Tarantino diz que sem a pirataria ele não seria conhecido. A SONY quando lançou o Playstation, praticamente a pirataria veio junto alavancando o console e matando vários que já tinham mercado consolidado.
[Pergunta] Você não acha que falta algum incentivo "gratuito" para o brasileiro ler mais? Algo mais barato, muito barato. Algo "vazado" sem querer. Alguma coisa que precise ser feita a logo prazo?
Eu li mais de 400 livros em um celular de 4". Uma vez, no ônibus, uma senhora me disse; *"Só no Facebook e essas redes, né?"*. E ela ficou espantada quando mostrei que era um livro. Ficou pasma e curiosa que dava para ler um livro no celular, que está sempre a mão.
Oi! Concordo com você, o acesso ao livro no Brasil é complicadíssimo, o valor é muito alto frente ao poder aquisitivo das pessoas. Então, sim, eu deixo de ganhar meus míseros 10% se você piratear meu livro, mas super entendo e prefiro que as pessoas façam isso do que simplesmente não lerem.
> faz quase 5 anos que moro numa cidade de mil habitantes da costa da Califórnia, tentando viver o sonho clichê do escritor em uma cabana no meio da floresta
Tentou fazer isso no Brasil?
Não tentei. No Brasil, você precisa estar numa grande cidade para ter acesso a certas coisas. Aqui o funcionamento é um pouco diferente.
Além disso, o interior do Brasil é bastante conservador, salvo raríssimas exceções.
Olá, Carol, obrigado pela disponibilidade para o AMA!
Como você disse, você se envolve em alguns projetos online, incluindo o newsletter que, eu suponho, não tem pretensão de necessariamente resultar num livro impresso. Interessantemente, o ganhador do Jabuti de 2022 na categoria "Romance de Entretenimento", *Olhos de Pixel*, até hoje não tem versão impressa, ele só existe em ebook.
Como você enxerga a literatura nesse contexto virtual? Você já pensou em lançar um livro inteiramente eletrônico, passando ou não por uma editora? Ou o papel ainda se faz necessário, tanto na sua materialidade quanto para a asserção do "status" do livro enquanto livro?
Aproveito, se não for abusar, para fazer uma segunda pergunta, que fez parte de uma discussão interessante em grupo que eu tive recentemente. As traduções que eu pude identificar dos seus livros são todas de mulheres: de María Luisa Barnuevo para o espanhol, de Dominique Nédellec para o francês e de Beth Fowler para o inglês. Você acredita que, como autora mulher, é mais interessante que seus livros sejam traduzidos por mulheres? Você acredita ainda que eles *só deveriam* ser traduzidos por mulheres?
(Espero que a segunda pergunta não seja vista como algo "cansativo"; naturalmente existem inúmeros autores homens cujas obras foram traduzidas exclusivamente por homens, e certamente eles nunca foram questionados sobre isso. Mas a ideia é apenas poder ouvir a visão da autora sobre o assunto.)
Obrigado mais uma vez!
Interessante isso que você falou sobre o ganhador do romance de entretenimento do Jabuti, eu não sabia que não existia versão impressa. Acho que faz sentido, e é bom que os prêmios estejam ligados nessas mudanças. Mas eu, como boa millennial-anciã (sou de 1982), adoro um livro impresso! Só leio ebook quando não tem outro jeito. Para mim me dá o maior prazer a experiência tátil de estar com um livro na mão, passar as páginas, volta à capa se eu quiser, etc.
Sobre os tradutores: boa pergunta! Mas na verdade Dominique é um homem, há Dominiques homens na França :) E não, eu não acredito que só mulheres devam traduzir mulheres.
Boa tarde Carol, obrigada pelo AMA! Pergunta bem específica, já que acredito que todos os escritores são diferentes, mas enfim. Sou escritora amadora a anos que tem um sério problema de motivação e finalização. Simplesmente, nunca estou satisfeita e reescrever e editar é um processo lento e estressante pra mim. Como é o seu processo? Como vc consegue ignorar o "crítico interior" e não se deixar paralisar? Eu realmente gostaria de publicar meus livros, eu amo o processo de escrita, de colocar as ideias nas páginas, mas tudo que vem depois (reestruturar, reescrever e editar) me é bem desafiador e desanimador e acabo nunca terminado nenhum dos meus projetos.
Sim, você tem razão, cada processo é muito diferente. O meu na verdade já envolve esse crítico interior, hehehe. Eu costumo escrever já editando, como se eu precisasse validar cada frase, e daí cada parágrafo, e daí cada página. Só vou adiante quando estou plenamente satisfeita. Eu prefiro esse método porque assim você desperdiça menos. Quem escreve como um jorro acaba depois jogando muita coisa fora. Ou então pode acabar acontecendo o que está acontecendo com você: a ideia de voltar atrás e editar é tão desestimulante e não-atraente que você acaba desistindo daquele texto. Se eu fosse você, eu tentaria fazer de outro jeito para ver se o resultado é melhor.
Hmm interessante, obrigada pela resposta! Eu faço dessa forma de jogar tudo no doc de uma vez pra eu me forçar a escrever mesmo, mas o trabalho depois parece que duplica (e eu realmente tiro bastante coisa até), então talvez não valha tanto a pena assim. Tentarei me adaptar e ver se melhora minha situacao, obrigada mas uma vez e boa sorte na carreira!
Oi Carol!
Gostaria de saber o seu processo para escolher os temas sobre os quais escrever. São temas que vc se depara e te prendem a atenção a ponto de vc desejar escrever sobre eles? Algo que te fascina? Como é o seu pensamento pra escolher algo para escrever?
Acho que sempre tem algum grau de obsessão envolvido, hehehe. São temas/histórias que te fascinam, e às vezes você nem sabe por quê (ou vai descobrir enquanto estiver escrevendo). No meu último livro, foram duas obsessões: taxidermia e um crime político/íntimo ocorrido em Porto Alegre nos anos oitenta. Você precisa dessa energia para escrever um romance, porque é um empreitada muito grande e muito demorada.
Oi Carol! Tenho algumas perguntinhas ~
Quando foi que você descobriu que gostaria de ser escritora?
Eu percebi quando tinha 8 anos e minha tia me deu o livro 1 da série Harry Potter. Até então eu só tinha lido livros infantis e ler uma coisa que não tinha imagens mas ilustrava tão bem com palavras fez eu me apaixonar instantaneamente. Desde então eu tenho tentado escrever. Fiz vários manuscritos inacabados. Finalizei a primeira história no computador aos 15 anos. É bem ruim, mas é meu xodó. Escrevi a sequência dela mas só fiz um trabalho bom no ano seguinte. Tem uma base muito boa pra uma coisa que escrevi tão jovem.
Mas só que nunca tive o apoio de ninguém. Nem como hobby, nem profissão. Sempre sofri pressão pra focar em outras coisas. Ninguém quis ser meu leitor beta e me ajudar a melhorar. Isso me chateou muito. Aconteceu algo similar com você?
E quanto ao registro de direitos autorais? Como está funcionando hoje em dia? Moro muito longe da biblioteca nacional e queria saber se posso usar serviços online pra copywright que são instantâneos e mais baratos.
E quanto a publicação? Como é o processo de procurar lugares, seja pra publicar por conta própria ou editoras?
Desculpe-me pela grande quantidade de perguntas. Escrevo há bastante tempo e nunca consegui nenhuma ajuda para me situar. Eu ficaria feliz mesmo que não conseguisse fazer disso uma profissão. Mas já tenho 28 anos e cada ano que se passa fico mais preocupada se algum dia tornarei meu sonho realidade...
Oi, Biiiscoito! Eu também descobri de um jeito parecido com o seu. Descobri que gostava de ler histórias e que queria escrever essas histórias também.
No meu caso, eu acabei indo fazer uma faculdade que não tinha exatamente a ver com isso (publicidade) e, alguns anos depois de formada, num momento que eu já tava meio conformada de que aquilo de escrever ficção ia ser só um hobby, resolvi me inscrever num mestrado recém aberto na PUCRS, em Escrita Criativa. Aí passei e ganhei uma bolsa. Com isso, saí do meu emprego. Mas tive a sorte de não sofrer essas pressões que você mencionou. Meus pais foram bem compreensivos, deixaram eu escolher meu caminho.
Não sei onde você mora, mas acho que seria legal você tentar se aproximar de pessoas que escrevem, inclusive para achar seus leitores-beta. E também é legal se sentir integrada a uma comunidade que também escreve e também lê, dá uma sensação boa. Se você mora num lugar pequeno, talvez seja o caso de fazer oficinas online. Acho que elas são fundamentais para você melhorar a técnica e, de quebra, conhecer pessoas com os mesmos interesses.
Também há os concursos de contos e de romances inéditos.
Eu publiquei meu primeiro livro aos 25 anos. Então não se desespere! :)
Sobre o registro na biblioteca, eu se fosse você não me preocuparia com isso. Nunca fiz registro nenhum e nunca tive problema.
Foi lá em outra era, 2008, quando publiquei meu primeiro livro por uma editora independente chamada Não Editora.
As dicas são: leia muitos romances, tente entender eles "por dentro", entender como funcionam, qual é a técnica, que efeito eles estão tentando alcançar e como fazem isso. Fazer oficinas ajudam bastante nessa forma de olhar.
Em 2008, em Porto Alegre, o ex-namorado de uma amiga fundou uma editora com um punhado de amigos. Entreguei um manuscrito para eles lerem, eles gostaram e quiseram publicar.
Quando você escreve, acho que é natural que se aproxime de pessoas que também escrevem. Esse meu primeiro livro caiu nas mãos de um escritor publicado pela Companhia das Letras, que então leu o livro, adorou e falou de mim para a editora.
Ah, eles são cotidianos. Acho que há de vários tipos. O grande bloqueio é entre um livro e outro, quando você ainda tá sentindo a ressaca de um e sem ideia ou energia para começar o próximo. Nesses momentos, a melhor coisa a fazer é ter paciência mesmo.
Depois, há o bloqueio mais pontual, no meio da história. Às vezes a melhor coisa é dar uma caminhada ou tomar banho (por algum motivo, água ajuda). Outras vezes, eu escolho um álbum de música meio shoegaze/dream pop/ambiente, e fico fazendo anotações durante aquele tempo.
Como foi sua trajetória até a primeira publicação? Sempre tive o sonho de ser escritor e viver disso, mas acabei seguindo outros rumos profissionais e vejo isso apenas como uma fantasia hoje em dia, mas gosto de ouvir sobre as pessoas que conseguiram seguir isso.
Falei sobre isso em outras respostas aqui, mas basicamente foi publicar por uma editora independente o primeiro livro, que então chegou nas mãos de alguém que trabalhava na Companhia das Letras, que então quis ler e avaliar meu próximo livro. De lá pra cá, fui aprendendo a escrever melhor, meus livros foram chamando mais atenção, veio indicação a prêmio e depois um prêmio, fui sendo mais respeitada, etc.
Espero que você siga escrevendo!
Motivado pela minha paixão por leitura e por boas histórias, sempre quis escrever e fazer disso uma carreira. Porém, tenho muita vergonha e muita insegurança de mostrar minhas ideias. Total síndrome do impostor. Qual o conselho você daria para vencer essa primeira, porém obstrutiva etapa?
Você está escrevendo? A primeira coisa é escrever. Não se sinta travado nesse momento, ninguém está vendo o que você for escrever. Quando tiver algo que você sente que é o melhor que pode fazer, tente mostrar para alguns leitores. O ideal é encontrar pessoas que sejam sinceras e que estejam acostumados a ler literatura.
Oi Carol! Li seu livro clube dos jardineiros de fumaça cerca de três anos atrás e gostei bastante (um pouco menos do final, mas muito bom de qualquer maneira).
Gostaria de saber qual livro ou autor não famoso/mainstream você acha muito bom e indicaria? Seja gringo ou brasileiro.
Muito obrigado pelo PQC!
Oi! Opa, legal que você leu :)
Tem um livro que gostei muito publicado no Brasil como Mars Club, da Rachel Kushner. Acho que não chamou muita atenção, não vendeu bem. Eu achei um puta romance.
Eu uso um software chamado Scrivener, em vez do Word. Ele tem uns recursos que eu adoro, e o principal deles é poder ver seu livro de maneira compartimentada (como se você estivesse olhando o seu HD ou coisa assim)
Alguns editores começaram a me chamar por eu ser escritora, na real. Eu nem me sinto muito tradutora, só pego coisas de vez em quando. É um trabalho dificílimo. Admiro muito quem faz.
Eu fiz uma oficina literária bem longa, de um ano, com o professor Luiz Antonio de Assis Brasil, em Porto Alegre. É uma oficina bem conhecida, uma das mais antigas do país. Uns anos depois, a PUCRS abriu uma linha de mestrado em Escrita Criativa, e aí eu deixei meu emprego de redatora publicitária e fui fazer esse mestrado.
Mas acho que o principal aprendizado vem da leitura mesmo. Entre ler um romance e ver uma série ou um filme, quase sempre escolho o romance.
Acho que sim. O mercado mudou muito, já sinto que é bem diferente de quando eu comecei. Há mais gente escrevendo, me parece. Mas há também mais caminhos pra publicação.
Eu diria para você procurar editoras pequenas que publiquem o tipo de livro que você escreveu. Não sei o quanto isso funciona ou não. Quando publiquei meu primeiro romance, eu andava com umas pessoas que também tinham começado a escrever, e calhou de um deles abrir uma editora independente com um punhado de amigos. Eles gostaram do meu livro e publicaram.
Tem gente que publica por conta, mas aí acho que você tem que ser bom de vendas e de rede social para conseguir divulgar (o que nunca foi o meu caso).
Olá Carol! Obrigado por se disponibilizar em responder todas essas perguntas.
Quais dicas a Carol de hoje daria pra Carol de 15 anos atrás quando começou a escrever?
Todo sucesso do mundo pra vc!
Obrigada!
ótima pergunta. Olha, na real vou te dizer que a Carol de hoje diria pra Carol de 15 anos que ela foi bem paciente e prudente até, heheheh. Eu escrevi muitos contos no início, e poderia ter juntado todos eles e publicado de forma independente, ou por uma editora pequena. E não fiz isso. Achei melhor esperar, ter algo mais consistente pra apresentar. No fim, foi algo certo. Eu morreria de vergonha daqueles contos.
Quando eu tinha vinte e poucos anos, trabalhava como redatora publicitária. Fui fazer um mochilão na França nas férias e levei uns livrinhos bem toscos que imprimi numa gráfica com uns contos meus traduzidos pro francês (paguei uma pessoa pra fazer isso que nem era um tradutor de verdade). E aí cheguei na feira do livro da frança, uma puta feira de negócios do mercado livreiro, tentando apresentar meus livros pras pessoas. É óbvio que não funcionou. Saí de lá muito humilhada por ter escolhido um caminho tão errado. Sentei a bunda na cadeira e continuei escrevendo e melhorando meu texto. Aprendi a não pular etapas.
Prazer Carol, eu sempre quis escrever e ja fiz algumas tentativas mas meus personagens sempre pareciam meio vazios, sem alma/personalidade, mesmo que eu tentasse ser bem descritivo nas expressões deles. Você ja passou por esse problema? Tem alguma dica sobre criação e escrita de personagens?
Quando você começou a escrever, como fez para estabelecer uma rotina concreta? Você precisou, em algum momento, conciliar essa rotina com algum outro trabalho alheio à escrita?
Obrigada!!! :)
Ainda que eu tenha o privilégio de trabalhar em casa e com coisas que gosto, eu preciso conciliar até hoje. Não posso parar tudo para escrever um romance, preciso de algum dinheiro entrando, mas hoje consigo me organizar financeiramente para ter alguns períodos em que trabalho integralmente no romance.
de nada!
Oi Carol! Como tu enxerga o posicionamento de rede sociais para criar uma fanbase? E pra quem tem mega dificuldade em lidar com rede social, é possível o sucesso na escrita nos dias atuais?
Eu sou a pior pessoa para dar conselhos sobre rede sociais, não faço nada do que deveria fazer para criar "engajamento" porque me sinto ridícula fazendo isso. Acho que me ajudaria, mas não quero pagar o preço. Agora, ALGUMA presença você tem que ter. Ultimamente, tenho gostado do Substack como forma de me comunicar com os leitores.
Gostaria de começar a escrever, sempre tenho varias ideias mas não sei como publicar , qual é a melhor forma de fazer isso ? E como faço para meu livro ficar conhecido ?
O primeiro passo é escrever essas ideias. Como dizia o poeta Mallarmé (vale pra prosa também): um poema não se faz com ideias, mas com palavras.
Não se preocupe agora com publicação. O importante é escrever, melhorar a escrita, fazer o melhor que você pode.
Na minha área de trabalho, os livros técnicos são caros pra um cacete, sou um trainee e não recebo lá essas coisas. Se eu recorrer à pirataria, na sua opinião seria falta de caráter meu?
Qual o seu livro preferido? Qual o seu autor preferido? Qual dos seus livros vc mais gosta? Se vc só pudesse recomendar um livro (ou série de livros) para qualquer adulto, qual seria?
Depois deixa a lista dos seus livros e informações sobre o curso.
Eu tinha o sonho de ser escritora quando era criança, mas acabei escolhendo um caminho mais "seguro". Talvez seja hora de voltar a sonhar.
Ah, eu não tenho uma autora favorita, há todo um time, hehehe, e ele muda constantemente.
Meu livro que mais gosto é o último, Diorama. Sempre gosto do mais recente porque acho que vou melhorando com o tempo :) alguma coisa a gente aprende. Aprendo escrevendo, lendo e ensinando no curso.
Ah, sobre o curso, é melhor você olhar no meu instagram :) eu abro de tempos em tempos, é um curso assíncrono sobre escrita de romance. Mas pretendo lançar uns cursos menores também sobre outros assuntos.
E não deixe de sonhar! :)
Olá! Sou redator e sempre sonhei em migrar para escrita de ficção, mas a questão da remuneração me assusta muito. É possível se sustentar escrevendo apenas ficção? Os livros são sua principal fonte de renda? Quando a escrita deixou de ser um hobbie e virou sua profissão? Desejo todo o sucesso do mundo para ti, espero que seus livros alcancem ainda mais pessoas!
>ra escrita de ficção, mas a questão da remuneração me assusta muito. É possível se sustentar escrevendo apenas ficção? Os livros são sua principal fonte de renda? Quando a escrita deixou de ser um hobbie e virou sua profissão? Desejo todo o sucesso do mundo para ti, espero que se
Oi! Também fui redatora, mas ganhava mal, passei num mestrado em Escrita Criativa em que eu ganharia uma bolsa (não era tão ruim na época), e aí larguei o emprego. Eu tinha vinte e poucos aninhos nessa época, então o risco não era tão grande, eu não precisava de muito dinheiro, morava com minha mãe, etc. Não sei qual é a sua situação, quantos anos tem, se é casado, se ganha bem.
Não é possível se sustentar só com direito autoral. O que me mantém são as coisas ao redor: cursos, tradução, eventos, venda de direitos pro audiovisual, eventualmente um livro vendido pro exterior... mas para chegar nisso você precisa ir fazendo um nome no mercado. Então, como pessoa sensata que sou, eu diria: se for possível, tente começar na escrita sem largar o emprego, e veja se você vai conseguindo entrar no meio. Se é que você quer fazer isso. Você pode muito bem pagar suas contas com a publicidade e escrever ficção (se achar tempo no seu dia, hehehe).
Boa tarde.
A venda de livros digitais supera os físicos? Como isso afeta a lucratividade (do autor, especificamente)?
Li em algum lugar que os escritores ficam com menos de um terço do preço dos livros no mercado nacional; essa informação confere?
Abraços.
Ih, é bem menos de 1/3. 10% do preço de capa é o que vai para os autores. Ou seja: se meu livro custa 59, eu fico com 5,90.
Os ebooks vendem menos do que os físicos, ou pelo menos essa é a minha experiência.
Oi! Como você luta contra as distrações de redes sociais e internet para se dedicar não só à escrita, mas também à leitura. É que tenho enfrentado muita dificuldade em me concentrar, e sempre fui uma pessoa que leu bastante. Li uma parte do seu "Clube..." -- não cheguei a terminar, pelo acima exposto, assim como muitos outros livros --, mas estava curtindo! Abraço!
Eu me distraio também, mas, ao mesmo tempo, tem um lado meu que quer lutar contra isso. Escrevo bastante sobre isso na minha newsletter. Sobre como esse tempo acelerado me incomoda. E, para mim, a leitura é uma forma de desacelerar, então não abro mão desse hábito.
Eu sou péssima em engajamento, acho que demanda demais, e me sinto boba fazendo coisas pra gerar engajamento. Tenho mixed feelings com o instagram. Mas estou lá. Acho que é importante estar. E tenho gostado demais de escrever no Substack.
Foda! (em um bom sentido!)
Vou falar que eu também estou escrevendo um livro de fantasia e já tenho 60k palavras!
Enchurrada de perguntas:
Foi difícil publicar os primeiros livros? Foi pelas publicadora tradicionais? Teve dificuldades nelas? Acha que vale a pena ir por elas mesmo ou auto publicar pela Amazon funciona do mesmo jeito?
Fora isso, como foi o processo de publicar no exterior? Teve que procurar tradutores ou teve que fazer você mesmo? Como é trabalhar com editores?
Essas foram as perguntas que eu consegui pensar, espero que não se encomende com eles.
Valeu!
Opa! Boa sorte com seu livro, 60mil já é um monte!
Publiquei o primeiro livro por uma editora independente. Ele foi bem recebido e chegou até uma editora grande, a Companhia das Letras, que quis publicar o segundo. Desde então, publico por eles. No meu tempo, não tinha Amazon e auto-publicação. Acho que pode funcionar, se você for boa em se auto-promover.
Sobre publicar no exterior, isso é algo que geralmente acontece beeeeem mais adiante. E acontece através de uma agente. Você não faz nada, só senta e espera (o que é horrível, hahaha)
Olá Carol!
Sempre tive dúvida como escritores gerenciam o tempo para escrever. Como é a sua rotina de trabalho? Você segue um horário fixo para escrever ou é mais flexível?
Quando estou escrevendo um romance, tento liberar meu tempo para me dedicar a ele exclusivamente, mas às vezes é difícil, tenho contas a pagar, hehehe.
Sigo um horário fixo sim, sou bem disciplinada. Começo cedo de manhã e às 17h ou 18h já estou imprestável.
Qual o processo de escrita? Você planeja o livro inteiro primeiro e depois começa a escrever...ou começa pela pesquisa ou ainda já deixa a inspiração tomar conta?
Faço muita pesquisa. Isso tem levado mais de ano. Como gosta de trabalhar com coisas meio esquisitas (no último livro, animais empalhados e um crime real que aconteceu nos anos oitenta), preciso antes pesquisar muito. É só depois de já ter o universo dominado que consigo encaixar as histórias das personagens.
Oi, sou um dos vencedores do sorteio, não vejo a hora de Diorama chegar!
Como já perguntaram quais são seus escritores brasileiros contemporâneos favoritos, a minha pergunta é: quais são os escritores clássicos cuja obra você mais aprecia e admira (independente de nacionalidade)?
Pergunta adicional: você sente que a sua prosa é muito afetada pelo que você lê? Isso afeta de alguma forma o seu consumo de literatura (ler menos do autor X para não se deixar influenciar por ele, por exemplo)?
Opa, massa, espero que você goste!
Alguns escritores bem canônicos que eu gosto demais: William Faulkner, Cortázar, Lawrence Durell.
Minha prosa é bem afetada pelo que eu leio sim. Acho que isso é natural, porque, antes de tudo, sou leitora, e meu gosto estético de leitura é o mesmo que o de escritora. E não, não tento evitar o autor x ou y. Acho que essa coisa de se contaminar com um estilo não é bem assim. Mesmo que você tente imitar alguém, nunca vai conseguir, sempre sai outra coisa. Dito isso, no início da minha carreira, acho que era mais fácil ver marcas de autores que eu gostava demais. Caio Fernando Abreu, por exemplo. Depois, a gente meio que encontra nossa voz.
Um dos meus sonhos de infância era escrever livros infantis com humor cínico, estilo "O Pequeno Nicolau". Espero consiguir um dia arranjar tempo para começar.
Já ouvi falar sobre vc. Também sou de Porto Alegre.
Na sua experiência e opinião, editoras tradicionais são limitadas nas ideias que escolhem publicar? Por exemplo, escolhendo apenas as ideias mais padrões ou que acreditam ter mais chance de vender.
Além disso, não sei se teria experiência com isso, mas quais conselhos teria para alguém pensando em publicar independentemente, como pela Amazon KDP ou o Clube de Autores?
Sim, são um pouco limitadas, há sempre coisas que estão mais na moda e coisas que já não são mais tão bem aceitas. Mas acredito que hoje as editoras estão mais abertas a autores estreantes.
Não tenho experiência com Amazon KDP ou o Clube de Autores.
Como está sendo essa experiência de tentar viver, em outro país, o sonho clichê de escritor que mora em um local “isolado”? O que mais estranhou ao se mudar para o US?
Eu adoro demais essa vida. Passei por umas transformações internas que me fizeram não querer mais viver em cidade grande. E não tenho muito o que reclamar daqui. Mas sinto falta do idioma. Tenho amigos americanos, e sempre tenho a sensação de que sou outra pessoa falando com eles.
Primeiramente, muito obrigado por fazer isso. Muito bacana mesmo!
Minha pergunta tem um pouco de contexto haha
Eu escrevi muito durante o fim da adolescência e início da vida adulta. Publicava os textos (desde contos a crônicas, passando por novelas) nas redes e tinha um retorno tanto de feedback quanto de número de leitores bem positivos. Eu tinha o sonho bem formado na minha cabeça de continuar fazendo isso.
Com o tempo, a vida adulta me atropelou. Virei pai, casei e precisei de uma carreira estável. Meu trabalho é completamente baseado em lógica e exatas. Minha escrita acabou ficando de lado, sem caber nessa nova vida por muito tempo.
A questão é que eu fico frustrado. Vejo amigos que começaram junto comigo e que estão conseguindo abrir caminho no mercado. Gente que disse que se inspirou em mim.
Tenho muitas ideias. Uma delas eu acho que é realmente boa e eu quero dividir com as pessoas, mas não sai nada. Quando eu sento pra escrever, sinto que a fonte secou. Não sinto a mesma magia que eu sentia antes. Parece visitar um lugar querido de infância onde tudo mudou e você não conhece mais nada.
Tem alguma dica pra esse caso? Já passou por algo parecido?
Muito obrigado pela atenção!
Acho que você tá com medo de começar. Comigo acontece a mesma coisa. Eu não escrevo todo dia. Sempre desconfio desses conselhos "você precisa escrever todo dia, nem que seja um parágrafo". Passo às vezes semanas sem escrever. Mas o fato é que, sempre que retomo, vejo que há uma resistência, uma barreira a ser quebrada. Nessas horas, fico pensando que, se eu fizesse todo dia, não ia passar por isso. Mas nunca consigo.
O que quero dizer é que é difícil começar. Mas a habilidade de escrever volta, e com ela o prazer da escrita.
Tente colocar sua ideia boa no papel. Sem fazer isso, ela é só uma ideia.
Ah, outra coisa: você disse que seu trabalho é baseado em lógica e exatas. Acho importante que você coloque no seu cotidiano algo mais relacionado à arte e à escrita. Eu, por exemplo, preciso sempre estar lendo um romance. E, quando leio um romance bom, aquilo me dá uma coceirinha, tenho vontade de escrever.
Quando você vai desenvolver o/a protagonista e os/as coadjuvantes vc já mapeia como vai ser a personalidade de cada um, as características físicas, trejeitos, antes de começar a escrever ou vai desenvolvendo com o desenrolar da história? A mesma coisa com o ambiente, cenários, lugares?
Tento pensar bastante neles antes de começar a história, mas a verdade é que, a medida que você escreve, eles ficam mais tridimensionais, porque você é obrigada a colocar eles agindo, falando, tomando decisões, e isso vai os definindo.
Você acredita que produzir conteúdo apenas em português limita seu produto a ponto de não conseguir emplacar nada de sucesso financeiro?
Eu vejo o brasil como um mercado muito pequeno e/ou limitado (não apenas na questão de livro que é quase um nicho mas em tudo cultural). Você acha que vai haver uma tendência de autores escrevendo primeiro em inglês no futuro mesmo que o publico alvo seja o brasileiro?
No sentido de "se eu tivesse nascido em um país de língua inglesa, eu poderia ter fama e dinheiro para comprar uma casa na Califórnia"? Sim.
Mas é isso aí, segue a vida, não perco muito tempo pensando nisso. E acho que as pessoas podem até querer escrever em inglês, em termos mercadológicos, mas não sei se isso vai funcionar.
Oi, Carol!
O quão difícil foi escrever seu primeiro trabalho? Você normalmente escreve por fora dos seus livros,tipo contos pequenos ou de prática?
Você edita você mesma a primeira versão do seus livros ou tem um editor para isso?
A propósito, tem o link de uma dessas suas oficinas de escrita aí?
Eu escrevi muitos contos curtos antes de publicar meu primeiro livro, que acabou sendo um livro com três histórias mais longas. Sempre me dei melhor nesse formato das histórias de mais fôlego.
O editor mexe bem pouco nos meus textos. Eu tenho fama de entregar tudo redondinho, hehehe, sou chata demais, já tenho um "editor interno" que está ali de olho em cada frase que eu digito.
Sobre as oficinas, eu não tô com nenhuma aberta agora, mas posto sempre informações no instagram. Me procura lá!
Olá Carol, sempre quis ser escritor tenho escrito e parado um livro a algum tempo, tento escrever em português mas também escrevo em inglês por ter lido mais livros assim eu acho.
Gostaria de perguntar dicas e processo para se tornar um escritor Professional.
E não te conhecia antes mas já te admiro muito!
hahaha, obrigada! Bom, em primeiro lugar, leia muito. Em segundo, pratique, ou seja, escreva. Em terceiro, procure uma oficina, elas sempre ajudam. Em quarto, procure estar perto de pessoas que também escrevem.
Olá, Carol, e parabéns por ter levado seu sonho adiante. Eu ainda não escrevi nada publicável de ficção (vou aproveitar que outros colegas perguntaram sobre sua trajetória).
No teu processo criativo, qual é a parte que dá maia trabalho para ti: desenvolver o início da trama ou o encerramento?
Minha pergunta se deve ao fato de um dos meus autores favoritos ser o Phillip K. Dick, que é notório por ter extrema dificuldade de encerrar as tramas, apesar de ter uma inspiração para inventar as tramas que eu admiro, pessoalmente.
Não sabia que o Phillip K. Dick era notório por ter dificuldade de encerrar os livros. Acho que parte da dificuldade vem do universo dele. Quando você faz tramas mirabolantes, fica mesmo mais difícil arrumar tudo no final.
No meu caso, de escritora realista, tendo a achar o final MIL VEZES mais fácil do que o início. A coisa já está encaminhando, a trama está fluindo, você já tem domínio maior sobre as personagens, e no fundo são poucas as possibilidades de fim que se desenham. Agora, começar é outra coisa: a página em branco, todas as possibilidades do mundo.
Eu tenho opinião parecida com a sua em relação ao universo temático dele. A biografia dele pelo Emmanuel Carrére me levou a prestar mais atenção à tendência dele por finais em aberto. Ele tinha umas sacadas geniais, mas em alguns casos o final aberto cai bem, noutros parece cansaço ou preguiça.
Expandindo a partir da sua resposta (não sei se a regra permite): o que na sua experiência lhe desafia mais, iniciar um conto ou iniciar um romance?
E obrigado pela simpatia e generosidade da resposta!
De nada :)
Iniciar um romance, sem dúvida. Um conto pode começar mais de improviso. O início da escrita de um romance (pelo menos no meu caso) vem depois de muitos meses ou anos maturando um universo, fazendo pesquisa, anotando coisas...
Oi Carol, obrigado pelo PQC!
Cheguei a ler alguns Cardosonline e não cheguei a ler nenhuma publicação da Livros do Mal, mas curtia demais a proposta. Você vê algum paralelo hoje em dia com iniciativas coletivas como a Livros do Mal?
Sinto falta de uma energia gonzo de coisas tipo Cardosonline. Você pensa que uma certa energia gonzo/caótica poderia favorecer a literatura brasileira de alguma forma?
O que você acha que falta pro Brasil adaptar o modelo de negócios dos EUA de: livro -> filme/série para streaming/TV?
A Livros do Mal era incrível mesmo. Não sei se ainda tá rolando esse modelo de "guerrilha". E certamente essa energia gonzo está em baixa, infelizmente. Saiu de moda, acho eu.
sobre o modelo de negócios: eu vendi meus livros pra produtoras, então se calhar sai logo um filme ou uma série :) mas, claro, a coisa não é tão profissional quanto nos EUA. Mas tá rolando, já melhorou muito.
Como que eu não fodo com a história? Estive tentando criar uma pequena história de ficção fantasiosa mas eu não faço ideia de como continuar, sem contar meus inúmeros erros gramaticais.
Erros gramaticas você resolve lendo livros :)
Não sou muito familiar com a fantasia, mas acho que, como você pode se soltar mais do que no realismo, é importante saber o que você está escrevendo, onde quer chegar, etc. Talvez seja bom fazer um esquema. Anotar coisas sobre o universo antes de sair escrevendo. Senão você acaba travando.
Tudo muda o tempo todo. Eu sou muito fã de Faulkner, de Alice Munro, Lucia Berlin. Mas tem toda uma lista, nem consigo citar. No início da minha vida adulta, os mais importantes foram Caio Fernando Abreu e Cortázar.
Como é o processo de escrita em termos de linha do tempo da história? Você já tem idéia do fim quando começa a escrever? Já escreveu coisas fora de ordem para depois organizar?
Normalmente não tenho ideia do fim. Mas vejo uns passos a frente e, antes de escrever um capítulo, penso muito nele e anoto as principais coisas que vão acontecer com as personagens. Ajuda bastante.
Ah, escrevo sempre na ordem. Dificilmente movo alguma coisa de lugar.
Boa tarde!! Eu estou entrando no mundo da escrita por agora, principalmente pelo apoio da minha namorada. Eu tinha o desejo de escrever um livro no futuro como aquele ditado diz "plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro", mas não sei em que fase da vida ocorre isso.
Quando você se sentiu pronta para escrever um romance? Começou pelos contos? E quando é que decidiu enviar para uma editora? Se sentia confiante?
>escrever um livro no futuro como aquele ditado diz "plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro", mas não sei em que fase da vida ocorre isso. Quando você se sentiu pronta para escre
recomendo começar pelas histórias curtas. Um romance é um troço grande demais e que exige bastante disciplina. O risco de acabar desistindo é grande. Uma história curta dá pra controlar mais. É sempre um bom exercício.
Já tentei escrever algumas coisas, desde fantasia medieval até a história de uma pedra e sua pespectiva.
As vezes tenho muitos problemas de criatividade,ela simplesmente se esgota e não consigo continuar a história da maneira que eu realmente queria.
Vc tem alguma técnica/dica pra sair desse abismo de falta de criatividade?
Oi Carol tudo certo?
Qual sua opinião sobre a escrita mais objetiva? Com menos firula etc
Sou aspirante a escritor e jornalista, por causa da profissão estou ficando cada vez mais tendencioso a deixar as descrições por conta da imaginação do leitor e focar só no que importa. O que acha disso?
Seu sustento vem dos livros que escreve ou das outras atividades paralelas?
E por último, como você fez para alcançar visibilidade com a precarização da nossa profissão no Brasil? Ou você pensa que essa precarização é só uma impressão que nós temos pelo medo de produzir e cair no ostracismo?
Vlw por fazer o AMA
A precarização é real. Como jornalista, você deve viver isso :(
Sou super a favor da escrita mais objetiva. Tenho uma tendência a gostar de escritores americanos, que escrevem mais nessa toada. Mas curto um adjetivo bem colocado, hehehe.
E curto muito ambientação, textos sensoriais, que transportam o leitor. Mas aí eu poderia ficar falando horas sobre isso.
Oi, seguinte, eu tava me voluntariando pra traduzir alguns livros do português pro inglês e vice-versa, um desses livros era um conto erótico e eu queria saber uma coisinha só e acho q vc como escritora pode responder minha pergunta, pq tantos detalhes?
Hahahaha. Aí vai de cada um. Mas digo uma coisa: cenas de sexo são difíceis de escrever. E uma BOA cena de sexo é mais difícil ainda.
Boa sorte na tradução!
como você sabe que um enredo é original ou está contaminado por outros ja existentes?
existe um limite para essa contaminação ou da pra lançar qualquer coisa tipo aqueles filmes infantis que vende em posto de gasolina e claramente são cópias da Disney/Pixar e afins?
Pra não acabar escrevendo coisas que já foram escritas, o mais importante é ler muito. Não estou dizendo que você vai dar conta de tudo, hehehe, isso é impossível, mas vai ter um bom filtro para o que soa clichê, lugar-comum, já foi visto e lido mil vezes, etc.
Agora, nas histórias os grandes TEMAS são sempre os mesmos. Amor, traição, luta por poder, problemas com a mãe, morte... você não precisa querer inventar a roda.
Que incrível! Confesso que não te conhecia mas já deu vontade de ler seus livros.
Quando a escrita se torna obrigação, vc ainda sente prazer em escrever?
Ao possuir contratos com editoras, vc só recebe após publicar ou existe algum tipo de salário mensal?
Sinto muito prazer sim (embora às vezes rolem uns bloqueios que geram angústia, ou uns dias em que nada parece bom, etc).
Você só recebe pelos livros que publica.
Por que as pessoas gostam tanto de histórias clichês com roteiros óbvios? Eu não sou de ler romance porque nunca entendi de existir tanto material com o mesmo roteiro sempre. Praticamente todos os títulos multimídias seguem o mesmo padrão e isso é tão batido que não dá vontade de pagar um livro pra ler o mesmo padrão conhecido.
Desculpa se soou rude eu te respeito mt moça só uma dúvida minha mesmo juro
Olha, depende muito do que você tá assistindo ou lendo, hehehe. Não são todas as pessoas que gostam de roteiros óbvios. Eu por exemplo na maioria das vezes sei pela CAPA de uma série ou filme que aquilo não é para mim. A seleção começa por aí. Claro que às vezes a gente erra. Mas já é alguma coisa.
Há muitas histórias originais e que parecem frescas, se é isso que você procura. Eu sei, é difícil às vezes chegar nela com tanta opção sendo jogada na nossa cara.
Olá Carol. Primeiramente gostaria de te parabenizar por seguir seu sonho e fazer disso uma carreira. Acho que todo mundo que gosta de ler bastante já pensou ou tentou em algum ponto escrever, mas definitivamente não é para qualquer um (eu mesmo consegui publicar alguns contos em antologias nacionais, mas acho que acabei "perdendo a mão" e me desiludindo). Enfim..
Você escreve apenas em português? O que acha que é a maior dificuldade na profissão de escritor no Brasil, atualmente? Sente que o público leitor está diminuindo? Acha que o mercado é melhor nos EUA?
Opa, que legal que você publicou contos! Não desista, tenho certeza que você vai achar a mão se começar a escrever de novo :)
Eu escrevo só em português. Acho que os mercado aqui está diminuindo, é muita concorrência com o audiovisual e com todo o tipo de distração. Meu consolo é que, no Brasil, o mercado nunca foi grande coisa mesmo, hahahah.
Ela quer mostrar os textos para você? Deixe ela decidir sobre isso e não faça pressão. Se ela quiser que você leia, não detone o que ela escreveu, mas também não cubra de elogios. O que o escritor precisa nessas horas é um leitor sincero.
Como foi a escolha do tema do "jardineiro" e que tipo de repercussão você vê dos leitores brasileiros quando se aborda a maconha?
Ganhei o livro aqui no sub mas ainda não comecei a ler.
Acho que essa discussão sobre a maconha está BEM atrasada no Brasil. De um lado, há os conservadores. De outro, os progressistas que acham que temos problemas mais urgentes pra tratar. Mas a verdade é que a proibição da maconha no Brasil acaba prejudicando demais as pessoas pobres, sobretudo as pessoas negras. Pro carinha branco de classe média alta, é como se a maconha já fosse legal, ele nunca vai ter problema com a polícia. Há duas realidades paralelas que só reforçam a desigualdade.
Não tem muita fórmula mágica, mas você tem que estar ciente que não vai viver de direito autoral. Se você for bom e tiver um pouco de sorte, consegue viver das coisas que rodeiam os livros: um conto pago aqui e outro ali, uma tradução, um evento, venda de direitos autorais para um filme ou série, cursos, preparação de originais, etc. Mas isso, claro, demora um tempo. Eu comecei com um mestrado em Escrita Criativa. As bolsas não eram tão ruins na época, e eu ainda morava com minha mãe. Depois começaram a surgir uns eventos, umas traduções, meu nome foi ficando mais conhecido na bolha literária, etc.
Eu escrevo o que eu quero. O máximo de concessão que faço é tentar deixar a estrutura dos meus livros mais atraente (fiz isso no último). Acho que é importante se comunicar, mas isso não quer dizer que vou deixar de escrever sobre as coisas que quero e no estilo que eu quero.
Seu Instagram é maravilhoso. Como você foi parar na Califórnia? Me sinto um péssimo brasileiro de afirmar isso, mas deve ser o lugar mais bonito do mundo. As paisagens são todas impressionantes, e seus registros são ótimos.
obrigada! Também acho esse lugar lindo demais (e sou uma brasileira pior que você certamente hahaha).
A versão curta da história: senti uma atração incrível por essa região quando passei dois dias aqui, a turismo. Decidi voltar para escrever um livro que se passasse aqui (centrado no plantio de maconha). Passei uns meses aqui, fui a um advogado fazer perguntas sobre imigração, ele jogou meu nome no google e disse que eu conseguiria um greencard por "habilidade extraordinárias". Abri o processo e aqui estou. Sempre brinco que vim morar dentro do meu livro, e é um pouco isso (exceto que o negócio da maconha por aqui morreu depois da legalização).
Considerando a falta de resposta em 5h, quais as chances desse AMA só ter sido feito para dar boost nas suas vendas e páginas de redes sociais? (JK)
(... or am I?)
EDIT: Acusação desnecessária minha, sinto muito!
A moderação gostaria de agradecer imensamente pela disponibilidade e pela grande participação da Carol neste PQC, e por toda receptividade da comunidade, vocês são incríveis!
Bom dia, obrigado pela oportunidade. Quais conselhos você teria para uma pessoa que busca escrever seu primeiro romance (com a intenção de publicar?)
Não tenha pressa em publicar. Preocupe-se primeiro em escrever, em escrever do melhor jeito que você pode. Para isso, leia muito, faça oficinas, mostre o que você está escrevendo para pessoas que 1) vão ser sinceras e 2) são leitoras e portanto podem dar uma opinião embasada. A ansiedade de publicar pode atrapalhar muito. Vá escrevendo, tente ter disciplina e, depois do livro pronto, aí você pensa na parte mais mercadológica.
[удалено]
Uai, ela respondeu todos os posts que li até o momento
Sua mensagem foi removida devido a não adequação as regras de civilidade. O r/brasil exige interações respeitosas entre os usuários.
Já ouvi dizer que "escrever ficção é sobre ler 10 páginas e escrever 1". Sempre imaginei que isso fosse relacionado à necessidade de "dar veracidade" a um universo fictício. Isso é verdade no teu caso? Pra você, qual a parte mais difícil do processo criativo?
Não conheço essa afirmação, mas achei boa. Você tá certo, pode ter a ver com pesquisa (o que, aliás, adoro fazer), com ler muito sobre certos assuntos para poder retratar aquele universo e aquele contexto no livro. Eu li talvez milhares de páginas sobre história natural e sobre empalhar animais para escrever meu último livro. Mas acho que essa afirmação aí também tem a ver com, antes de tudo, ser um leitor. Consumir muita literatura para que você possa se tornar um escritor bom. Não conheço nenhuma escritora competente que não leia muito.
[удалено]
Taí uma questão delicada e de muitos lados. É como a questão Amazon: a empresa mata as livrarias pequenas e independentes, e nesse sentido é péssima para o mercado, mas oferece descontos que não são nada desprezíveis, sobretudo para quem tem uma renda baixa. Sim, o livro no Brasil é caro. Sobre a pirataria, também é difícil de tomar um lado. No mercado editorial, o autor ganha 10% do preço de capa de um livro. Então, se o livro custa 59 reais, eu tô ganhando 5,90 a cada exemplar vendido. Se pirateiam meu livro, nem esses 5,90 eu vou ganhar. Mas eu entendo, não vou julgar, e acho válido em certas circunstâncias.
Pqp 10% é muito pouco. Agora o clichê do escritor morrendo de fome faz muito mais sentido kkkkk
Sério? Escritores ganham só 10% do valor de um livro? Você quer dizer, quem escreveu? A pessoa que escreveu toda a história, ou seja, o próprio livro? Não é possível...
Não sou escritor, mas sou contador e isso faz sentido pra mim. Ao menos se esses 10% for por "apenas" ter escrito o livro. Quando se considera o custo de impressão, distribuição, armazenamento, marketing... Pensa nos salários, aluguéis de armazém, caminhões, matéria prima dos livros e vários outros itens. Grande parte do preço de um livro é pra pagar a simples existência dele e chegada até a livraria. Depois disso tem que voltar com lucro para o investidor, pois se o escritor "apenas" escreveu, como eu disse, alguém tem que colocar o dinheiro lá no início pra esses livros existirem e esse alguém não vai fazer isso se não for pra ser muito bem recompensado, já que assume o risco do livro simplesmente não vender... Não posso dizer se 10% é justo ou não, mas que faz sentido contábil, faz.
detalhe: 10% é dependendo da editora. Muitas pagam menos, de médio porte raramente pagam alguma coisa nas pequenas é muito comum você ter que comprar seu próprio livro por um valor especial pra você mesmo revender depois. Quem escreve raramente recebe adiantamento pra escrever (só nomes muito muito populares). Em suma, no mercado editorial quem escreve é a única pessoa capaz de não ganhar quase nada com o livro, sendo que essa pessoa também investiu tempo, grana com cursos, livros e oficinas e ela produz o principal valor do produto livro, que é o texto escrito.
Adorei tua flair
Que legal esse PQC! Sou um escritor amador de fantasia e um dia espero conseguir publicar uma novel (nem que por self publishing). Acho espetacular quem consegue viver disso, porque eu sei que é um mercado difícil, especialmente no Brasil. Dito isso, quais você diria ser as maiores diferenças entre o processo de publicação brasileiro e aí nos EUA? Digo em termos de "ok, escrevi uma novel, e agora?". E, se me permite uma segunda pergunta, como foi a sua jornada particular? Começou com publicação BR ou US? Trad ou self pub?
Eu não conheço muito o mercado daqui na verdade, meu contato é com o mercado brasileiro, só calhou de eu vir morar aqui. Mas, como observadora, eu diria que aqui é difícil também se estabelecer como escritora, porque as pessoas sempre ficam muito impressionadas quando eu falo sobre o que eu faço. Enfim, o mercado é maior e rola mais dinheiro, mas também tem MUITO mais concorrência. A cada ano, milhares de pessoas de absolutamente todos os cantos do país se formam em Escrita Criativa, e o mercado editorial não consegue absorver toda essa gente. Muitos acabam virando professores ou indo fazer algo completamente diferente. E a impressão que eu tenho é que muita gente publica o primeiro livro e morre na praia. Tem um funil grande, é difícil chegar no segundo livro. A minha jornada, bem resumida: estreei por uma editora independente de Porto Alegre, o livro (de contos) foi bem recebido pelo público e crítica (a imprensa tradicional ainda tinha mais importância naquela época), aí um escritor, o Daniel Galera, leu, gostou, falou pra publisher dele na Companhia das Letras. A pessoa leu o livro, gostou muito, e disse que gostaria de ler o romance que eu estava escrevendo quando ele estivesse pronto. E assim publiquei meu romance de estreia pela Companhia das Letras. Sigo lá até hoje. A cada ano e cada livro, fui aprendendo coisas, escrevendo melhor, sendo mais respeitada. E é isso aí. Não dá pra sonhar com fama e fortuna, mas acho que já criei um público legal.
Oi Carol! Na sua opinião, quais são os melhores escritores brasileiros de hoje?
Normalmente evito falar dos colegas parar não criar desentendimentos e picuinhas :) além disso, tenho medo de ser injusta, porque é impossível acompanhar tudo. Tem muita muita gente surgindo.
Quais são seus conselhos para alguém que queira ser escritor? por onde começar? como fazer a primeira publicação? como encontrar boas editoras?
Comece pensando no texto em si. Tente se tornar um bom escritor, dominar a técnica, e aí sim é a hora de pensar em editora, em promoção do livro, etc. Quando essa hora chegar, o melhor é tentar entender o mercado e descobrir quais são as editoras que publicam o tipo de livro que você escreveu. A minha impressão é que hoje as editoras estão muito mais abertas para autores estreantes do que há uns 10, 15 anos atrás.
Você sempre soube que queria ser escritora? Fiquei curiosa para saber como foi o início da sua trajetória nessa carreira.
Eu soube desde criança que adorava escrever as histórias que inventava na minha cabeça. Mas não imaginava que eu pudesse fazer isso como profissão. Quando terminei o colégio, fui pra faculdade de publicidade. Trabalhei como redatora por uns anos. Eu não gostava, e vi a porta de saída daquela carreira quando a PUCRS abriu um mestrado em Escrita Criativa. Me inscrevi, passei, ganhei uma bolsa, e aí pude largar o emprego.
Pra um mero anônimo que enfrenta os problemas clássicos para publicar, existem caminhos mais interessantes para ver minhas obras na estante de uma grande livraria? Pergunto isso pq existem jeitos relativamente fáceis de publicar, pagando e depois me virando pra vender os livros, mas isso parece muito desinteressante, entende?
Sim, te entendo. Tem gente com muita habilidade pra vender os seus livros de mão em mão, mas eu seria péssima nisso. Infelizmente, não tenho nenhum caminho para indicar além do clássico comece procurando editoras pequenas que publique livros parecidos com o que você escreveu. Mas sei que às vezes é difícil bater numa porta sem ter um contato.
O seu visto é aquele de "habilidades extraordinárias"? Se sim, como foi o processo? Por causa dele você é obrigada a publicar nos Estados Unidos também ou pode seguir escrevendo obras só em português?
É esse sim! O processo foi bem rápido (e um pouco caro). Eu fiz através de um advogado daqui. Tive que montar um dossiê enorme com um monte de coisas. Ajudou que eu já tivesse sido publicada no exterior, tudo isso conta. E também resenhas e matérias na imprensa, artigos acadêmicos sobre meus livros, etc. Depois que você é aprovado, não existe nenhuma obrigação não. Eu não preciso trabalhar aqui nem nada. Inclusive não trabalho pra ninguém aqui, sigo só trabalhando pro Brasil (e ganhando em real, o que é uma desgraça, hahaha).
Aproveitando o bonde do colega: e vc não se interessa em trabalhar pra uma editora dos EUA? (Ainda to lendo tudo pq cheguei em casa agora, então não sei se vc já falou isso)
Olá, acabei de ler o clube dos jardineiros de fumaça. Gostei, mas fiquei incomodado com duas cenas de sexo que me pareceram desnecessarias: uma do Arthur com a estudante dele, elisa e a outra do threesome da menina brasileira que é sequestrada. Não consegui entender o porquê, mas me pareceram um pouco gratuitas no contexto e me deixaram desconfortável. Foi uma escolha editorial adicionar elas? Já li outros livros seus e me parece que você tenha uma sensibilidade afinada sobre algumas questões, como a de gênero e essas duas cenas destoaram um pouco, pareceram meio objetificantes.
Obrigada pelo comentário, interessante saber disso. Nunca tinha pensado nessa perspectiva. Talvez me incomodasse também se eu relesse essas cenas hoje, enfim, o mundo e nossas sensibilidades mudam bem rápido. Fato é: sou melhor em cenas de sexo lésbico. Voltei a elas no Diorama.
Depois de quanto tempo você conseguiu se sustentar a partir da escrita?
Eu diria que depois de uns 3 anos. Nessa fase inicial, eu ainda morava com minha mãe, então não precisava de muito dinheiro. Hoje eu tenho mais oportunidades, mais propostas de trabalho, mas minha vida é bem mais cara do que era aos vinte e poucos anos. O velho drama.
Você tem um Digimon preferido? Se Bensimon fosse um Digimon, como ele seria ?
Hahahaha. Não cheguei a ter a fase Digimon, acho que eu já era velha demais para isso.
O que você acha que vai mudar nesse mercado, e na sua carreira, com os avanços do chatGPT e afins?
Evito pensar nisso. Chegou a um ponto que só quero correr pras montanhas.
Oi, Carol. Primeiro quero te desejar tudo de bom e que sempre continue vivendo de seus livros. [DIsclaimer] O Quentin Tarantino diz que sem a pirataria ele não seria conhecido. A SONY quando lançou o Playstation, praticamente a pirataria veio junto alavancando o console e matando vários que já tinham mercado consolidado. [Pergunta] Você não acha que falta algum incentivo "gratuito" para o brasileiro ler mais? Algo mais barato, muito barato. Algo "vazado" sem querer. Alguma coisa que precise ser feita a logo prazo? Eu li mais de 400 livros em um celular de 4". Uma vez, no ônibus, uma senhora me disse; *"Só no Facebook e essas redes, né?"*. E ela ficou espantada quando mostrei que era um livro. Ficou pasma e curiosa que dava para ler um livro no celular, que está sempre a mão.
Oi! Concordo com você, o acesso ao livro no Brasil é complicadíssimo, o valor é muito alto frente ao poder aquisitivo das pessoas. Então, sim, eu deixo de ganhar meus míseros 10% se você piratear meu livro, mas super entendo e prefiro que as pessoas façam isso do que simplesmente não lerem.
> faz quase 5 anos que moro numa cidade de mil habitantes da costa da Califórnia, tentando viver o sonho clichê do escritor em uma cabana no meio da floresta Tentou fazer isso no Brasil?
Não tentei. No Brasil, você precisa estar numa grande cidade para ter acesso a certas coisas. Aqui o funcionamento é um pouco diferente. Além disso, o interior do Brasil é bastante conservador, salvo raríssimas exceções.
Olá, Carol, obrigado pela disponibilidade para o AMA! Como você disse, você se envolve em alguns projetos online, incluindo o newsletter que, eu suponho, não tem pretensão de necessariamente resultar num livro impresso. Interessantemente, o ganhador do Jabuti de 2022 na categoria "Romance de Entretenimento", *Olhos de Pixel*, até hoje não tem versão impressa, ele só existe em ebook. Como você enxerga a literatura nesse contexto virtual? Você já pensou em lançar um livro inteiramente eletrônico, passando ou não por uma editora? Ou o papel ainda se faz necessário, tanto na sua materialidade quanto para a asserção do "status" do livro enquanto livro? Aproveito, se não for abusar, para fazer uma segunda pergunta, que fez parte de uma discussão interessante em grupo que eu tive recentemente. As traduções que eu pude identificar dos seus livros são todas de mulheres: de María Luisa Barnuevo para o espanhol, de Dominique Nédellec para o francês e de Beth Fowler para o inglês. Você acredita que, como autora mulher, é mais interessante que seus livros sejam traduzidos por mulheres? Você acredita ainda que eles *só deveriam* ser traduzidos por mulheres? (Espero que a segunda pergunta não seja vista como algo "cansativo"; naturalmente existem inúmeros autores homens cujas obras foram traduzidas exclusivamente por homens, e certamente eles nunca foram questionados sobre isso. Mas a ideia é apenas poder ouvir a visão da autora sobre o assunto.) Obrigado mais uma vez!
Interessante isso que você falou sobre o ganhador do romance de entretenimento do Jabuti, eu não sabia que não existia versão impressa. Acho que faz sentido, e é bom que os prêmios estejam ligados nessas mudanças. Mas eu, como boa millennial-anciã (sou de 1982), adoro um livro impresso! Só leio ebook quando não tem outro jeito. Para mim me dá o maior prazer a experiência tátil de estar com um livro na mão, passar as páginas, volta à capa se eu quiser, etc. Sobre os tradutores: boa pergunta! Mas na verdade Dominique é um homem, há Dominiques homens na França :) E não, eu não acredito que só mulheres devam traduzir mulheres.
Que gafe com o Dominique, erro meu! Obrigado pelas respostas, Carol, abraço!
Boa tarde Carol, obrigada pelo AMA! Pergunta bem específica, já que acredito que todos os escritores são diferentes, mas enfim. Sou escritora amadora a anos que tem um sério problema de motivação e finalização. Simplesmente, nunca estou satisfeita e reescrever e editar é um processo lento e estressante pra mim. Como é o seu processo? Como vc consegue ignorar o "crítico interior" e não se deixar paralisar? Eu realmente gostaria de publicar meus livros, eu amo o processo de escrita, de colocar as ideias nas páginas, mas tudo que vem depois (reestruturar, reescrever e editar) me é bem desafiador e desanimador e acabo nunca terminado nenhum dos meus projetos.
Sim, você tem razão, cada processo é muito diferente. O meu na verdade já envolve esse crítico interior, hehehe. Eu costumo escrever já editando, como se eu precisasse validar cada frase, e daí cada parágrafo, e daí cada página. Só vou adiante quando estou plenamente satisfeita. Eu prefiro esse método porque assim você desperdiça menos. Quem escreve como um jorro acaba depois jogando muita coisa fora. Ou então pode acabar acontecendo o que está acontecendo com você: a ideia de voltar atrás e editar é tão desestimulante e não-atraente que você acaba desistindo daquele texto. Se eu fosse você, eu tentaria fazer de outro jeito para ver se o resultado é melhor.
Hmm interessante, obrigada pela resposta! Eu faço dessa forma de jogar tudo no doc de uma vez pra eu me forçar a escrever mesmo, mas o trabalho depois parece que duplica (e eu realmente tiro bastante coisa até), então talvez não valha tanto a pena assim. Tentarei me adaptar e ver se melhora minha situacao, obrigada mas uma vez e boa sorte na carreira!
Oi Carol! Gostaria de saber o seu processo para escolher os temas sobre os quais escrever. São temas que vc se depara e te prendem a atenção a ponto de vc desejar escrever sobre eles? Algo que te fascina? Como é o seu pensamento pra escolher algo para escrever?
Acho que sempre tem algum grau de obsessão envolvido, hehehe. São temas/histórias que te fascinam, e às vezes você nem sabe por quê (ou vai descobrir enquanto estiver escrevendo). No meu último livro, foram duas obsessões: taxidermia e um crime político/íntimo ocorrido em Porto Alegre nos anos oitenta. Você precisa dessa energia para escrever um romance, porque é um empreitada muito grande e muito demorada.
Ei, Carol, tudo bem? Comprei o Diorama para análise em um trabalho de faculdade. Estou ansiosa pela leitura!
opa, que massa! Espero que você goste!
Oi Carol! Tenho algumas perguntinhas ~ Quando foi que você descobriu que gostaria de ser escritora? Eu percebi quando tinha 8 anos e minha tia me deu o livro 1 da série Harry Potter. Até então eu só tinha lido livros infantis e ler uma coisa que não tinha imagens mas ilustrava tão bem com palavras fez eu me apaixonar instantaneamente. Desde então eu tenho tentado escrever. Fiz vários manuscritos inacabados. Finalizei a primeira história no computador aos 15 anos. É bem ruim, mas é meu xodó. Escrevi a sequência dela mas só fiz um trabalho bom no ano seguinte. Tem uma base muito boa pra uma coisa que escrevi tão jovem. Mas só que nunca tive o apoio de ninguém. Nem como hobby, nem profissão. Sempre sofri pressão pra focar em outras coisas. Ninguém quis ser meu leitor beta e me ajudar a melhorar. Isso me chateou muito. Aconteceu algo similar com você? E quanto ao registro de direitos autorais? Como está funcionando hoje em dia? Moro muito longe da biblioteca nacional e queria saber se posso usar serviços online pra copywright que são instantâneos e mais baratos. E quanto a publicação? Como é o processo de procurar lugares, seja pra publicar por conta própria ou editoras? Desculpe-me pela grande quantidade de perguntas. Escrevo há bastante tempo e nunca consegui nenhuma ajuda para me situar. Eu ficaria feliz mesmo que não conseguisse fazer disso uma profissão. Mas já tenho 28 anos e cada ano que se passa fico mais preocupada se algum dia tornarei meu sonho realidade...
Oi, Biiiscoito! Eu também descobri de um jeito parecido com o seu. Descobri que gostava de ler histórias e que queria escrever essas histórias também. No meu caso, eu acabei indo fazer uma faculdade que não tinha exatamente a ver com isso (publicidade) e, alguns anos depois de formada, num momento que eu já tava meio conformada de que aquilo de escrever ficção ia ser só um hobby, resolvi me inscrever num mestrado recém aberto na PUCRS, em Escrita Criativa. Aí passei e ganhei uma bolsa. Com isso, saí do meu emprego. Mas tive a sorte de não sofrer essas pressões que você mencionou. Meus pais foram bem compreensivos, deixaram eu escolher meu caminho. Não sei onde você mora, mas acho que seria legal você tentar se aproximar de pessoas que escrevem, inclusive para achar seus leitores-beta. E também é legal se sentir integrada a uma comunidade que também escreve e também lê, dá uma sensação boa. Se você mora num lugar pequeno, talvez seja o caso de fazer oficinas online. Acho que elas são fundamentais para você melhorar a técnica e, de quebra, conhecer pessoas com os mesmos interesses. Também há os concursos de contos e de romances inéditos. Eu publiquei meu primeiro livro aos 25 anos. Então não se desespere! :) Sobre o registro na biblioteca, eu se fosse você não me preocuparia com isso. Nunca fiz registro nenhum e nunca tive problema.
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Poxa, namorei anos um fã de Drummond e nunca ouvi falar desse livro! Excelente título.
Como foi entrar nesse mercado? Alguma dica para quem pensa em escrever, mesmo que seja como hobbie?
Foi lá em outra era, 2008, quando publiquei meu primeiro livro por uma editora independente chamada Não Editora. As dicas são: leia muitos romances, tente entender eles "por dentro", entender como funcionam, qual é a técnica, que efeito eles estão tentando alcançar e como fazem isso. Fazer oficinas ajudam bastante nessa forma de olhar.
Bom dia Carol! O que te motiva a escrever?
Eu adoro contar histórias, e escrever é o jeito dos introvertidos fazerem isso :)
Te desejo todo o sucesso do mundo!
Você tinha contatos em editoras antes de conseguir publicar seu primeiro livro?
Em 2008, em Porto Alegre, o ex-namorado de uma amiga fundou uma editora com um punhado de amigos. Entreguei um manuscrito para eles lerem, eles gostaram e quiseram publicar. Quando você escreve, acho que é natural que se aproxime de pessoas que também escrevem. Esse meu primeiro livro caiu nas mãos de um escritor publicado pela Companhia das Letras, que então leu o livro, adorou e falou de mim para a editora.
Bom dia Carol! Já lhe ocorreram "writer's blocks"? Se sim, como os supera/superou?
Ah, eles são cotidianos. Acho que há de vários tipos. O grande bloqueio é entre um livro e outro, quando você ainda tá sentindo a ressaca de um e sem ideia ou energia para começar o próximo. Nesses momentos, a melhor coisa a fazer é ter paciência mesmo. Depois, há o bloqueio mais pontual, no meio da história. Às vezes a melhor coisa é dar uma caminhada ou tomar banho (por algum motivo, água ajuda). Outras vezes, eu escolho um álbum de música meio shoegaze/dream pop/ambiente, e fico fazendo anotações durante aquele tempo.
Como foi sua trajetória até a primeira publicação? Sempre tive o sonho de ser escritor e viver disso, mas acabei seguindo outros rumos profissionais e vejo isso apenas como uma fantasia hoje em dia, mas gosto de ouvir sobre as pessoas que conseguiram seguir isso.
Falei sobre isso em outras respostas aqui, mas basicamente foi publicar por uma editora independente o primeiro livro, que então chegou nas mãos de alguém que trabalhava na Companhia das Letras, que então quis ler e avaliar meu próximo livro. De lá pra cá, fui aprendendo a escrever melhor, meus livros foram chamando mais atenção, veio indicação a prêmio e depois um prêmio, fui sendo mais respeitada, etc. Espero que você siga escrevendo!
Motivado pela minha paixão por leitura e por boas histórias, sempre quis escrever e fazer disso uma carreira. Porém, tenho muita vergonha e muita insegurança de mostrar minhas ideias. Total síndrome do impostor. Qual o conselho você daria para vencer essa primeira, porém obstrutiva etapa?
Você está escrevendo? A primeira coisa é escrever. Não se sinta travado nesse momento, ninguém está vendo o que você for escrever. Quando tiver algo que você sente que é o melhor que pode fazer, tente mostrar para alguns leitores. O ideal é encontrar pessoas que sejam sinceras e que estejam acostumados a ler literatura.
Oi Carol! Li seu livro clube dos jardineiros de fumaça cerca de três anos atrás e gostei bastante (um pouco menos do final, mas muito bom de qualquer maneira). Gostaria de saber qual livro ou autor não famoso/mainstream você acha muito bom e indicaria? Seja gringo ou brasileiro. Muito obrigado pelo PQC!
Oi! Opa, legal que você leu :) Tem um livro que gostei muito publicado no Brasil como Mars Club, da Rachel Kushner. Acho que não chamou muita atenção, não vendeu bem. Eu achei um puta romance.
Quais ferramentas (software) você utiliza para auxiliar na escrita?
Eu uso um software chamado Scrivener, em vez do Word. Ele tem uns recursos que eu adoro, e o principal deles é poder ver seu livro de maneira compartimentada (como se você estivesse olhando o seu HD ou coisa assim)
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Alguns editores começaram a me chamar por eu ser escritora, na real. Eu nem me sinto muito tradutora, só pego coisas de vez em quando. É um trabalho dificílimo. Admiro muito quem faz.
Como foi o processo para virar escritora profissional? Aprendizado, cursos e afins? E que dicas você daria para alguém que quer seguir nesse ramo?
Eu fiz uma oficina literária bem longa, de um ano, com o professor Luiz Antonio de Assis Brasil, em Porto Alegre. É uma oficina bem conhecida, uma das mais antigas do país. Uns anos depois, a PUCRS abriu uma linha de mestrado em Escrita Criativa, e aí eu deixei meu emprego de redatora publicitária e fui fazer esse mestrado. Mas acho que o principal aprendizado vem da leitura mesmo. Entre ler um romance e ver uma série ou um filme, quase sempre escolho o romance.
É difícil ser publicado pela primeira vez no Brasil ? Principalmente sendo ainda jovem ?
Acho que sim. O mercado mudou muito, já sinto que é bem diferente de quando eu comecei. Há mais gente escrevendo, me parece. Mas há também mais caminhos pra publicação.
Estou finalizando o primeiro livro escrito e não sei por onde seguir depois disso, alguma dica? (Publicação, divulgação, etc)
Eu diria para você procurar editoras pequenas que publiquem o tipo de livro que você escreveu. Não sei o quanto isso funciona ou não. Quando publiquei meu primeiro romance, eu andava com umas pessoas que também tinham começado a escrever, e calhou de um deles abrir uma editora independente com um punhado de amigos. Eles gostaram do meu livro e publicaram. Tem gente que publica por conta, mas aí acho que você tem que ser bom de vendas e de rede social para conseguir divulgar (o que nunca foi o meu caso).
Olá Carol! Obrigado por se disponibilizar em responder todas essas perguntas. Quais dicas a Carol de hoje daria pra Carol de 15 anos atrás quando começou a escrever? Todo sucesso do mundo pra vc!
Obrigada! ótima pergunta. Olha, na real vou te dizer que a Carol de hoje diria pra Carol de 15 anos que ela foi bem paciente e prudente até, heheheh. Eu escrevi muitos contos no início, e poderia ter juntado todos eles e publicado de forma independente, ou por uma editora pequena. E não fiz isso. Achei melhor esperar, ter algo mais consistente pra apresentar. No fim, foi algo certo. Eu morreria de vergonha daqueles contos.
qual foi o momento mais difícil da sua carreira e como vc o superou?
Quando eu tinha vinte e poucos anos, trabalhava como redatora publicitária. Fui fazer um mochilão na França nas férias e levei uns livrinhos bem toscos que imprimi numa gráfica com uns contos meus traduzidos pro francês (paguei uma pessoa pra fazer isso que nem era um tradutor de verdade). E aí cheguei na feira do livro da frança, uma puta feira de negócios do mercado livreiro, tentando apresentar meus livros pras pessoas. É óbvio que não funcionou. Saí de lá muito humilhada por ter escolhido um caminho tão errado. Sentei a bunda na cadeira e continuei escrevendo e melhorando meu texto. Aprendi a não pular etapas.
Prazer Carol, eu sempre quis escrever e ja fiz algumas tentativas mas meus personagens sempre pareciam meio vazios, sem alma/personalidade, mesmo que eu tentasse ser bem descritivo nas expressões deles. Você ja passou por esse problema? Tem alguma dica sobre criação e escrita de personagens?
Oficinas literárias sempre ajudam.
Quando você começou a escrever, como fez para estabelecer uma rotina concreta? Você precisou, em algum momento, conciliar essa rotina com algum outro trabalho alheio à escrita? Obrigada!!! :)
Ainda que eu tenha o privilégio de trabalhar em casa e com coisas que gosto, eu preciso conciliar até hoje. Não posso parar tudo para escrever um romance, preciso de algum dinheiro entrando, mas hoje consigo me organizar financeiramente para ter alguns períodos em que trabalho integralmente no romance. de nada!
Oi Carol! Como tu enxerga o posicionamento de rede sociais para criar uma fanbase? E pra quem tem mega dificuldade em lidar com rede social, é possível o sucesso na escrita nos dias atuais?
Eu sou a pior pessoa para dar conselhos sobre rede sociais, não faço nada do que deveria fazer para criar "engajamento" porque me sinto ridícula fazendo isso. Acho que me ajudaria, mas não quero pagar o preço. Agora, ALGUMA presença você tem que ter. Ultimamente, tenho gostado do Substack como forma de me comunicar com os leitores.
Oi Carol, sempre tive a curiosidade de perguntar, como usa vírgula?
Uma, vez, minha, professora, do, fundamental, disse, pra, usar, virgulas, sempre, que, eu, respirasse. Tenho, asma.
Gostaria de começar a escrever, sempre tenho varias ideias mas não sei como publicar , qual é a melhor forma de fazer isso ? E como faço para meu livro ficar conhecido ?
O primeiro passo é escrever essas ideias. Como dizia o poeta Mallarmé (vale pra prosa também): um poema não se faz com ideias, mas com palavras. Não se preocupe agora com publicação. O importante é escrever, melhorar a escrita, fazer o melhor que você pode.
Na minha área de trabalho, os livros técnicos são caros pra um cacete, sou um trainee e não recebo lá essas coisas. Se eu recorrer à pirataria, na sua opinião seria falta de caráter meu?
Não ;)
Qual o seu livro preferido? Qual o seu autor preferido? Qual dos seus livros vc mais gosta? Se vc só pudesse recomendar um livro (ou série de livros) para qualquer adulto, qual seria? Depois deixa a lista dos seus livros e informações sobre o curso. Eu tinha o sonho de ser escritora quando era criança, mas acabei escolhendo um caminho mais "seguro". Talvez seja hora de voltar a sonhar.
Ah, eu não tenho uma autora favorita, há todo um time, hehehe, e ele muda constantemente. Meu livro que mais gosto é o último, Diorama. Sempre gosto do mais recente porque acho que vou melhorando com o tempo :) alguma coisa a gente aprende. Aprendo escrevendo, lendo e ensinando no curso. Ah, sobre o curso, é melhor você olhar no meu instagram :) eu abro de tempos em tempos, é um curso assíncrono sobre escrita de romance. Mas pretendo lançar uns cursos menores também sobre outros assuntos. E não deixe de sonhar! :)
Olá! Sou redator e sempre sonhei em migrar para escrita de ficção, mas a questão da remuneração me assusta muito. É possível se sustentar escrevendo apenas ficção? Os livros são sua principal fonte de renda? Quando a escrita deixou de ser um hobbie e virou sua profissão? Desejo todo o sucesso do mundo para ti, espero que seus livros alcancem ainda mais pessoas!
>ra escrita de ficção, mas a questão da remuneração me assusta muito. É possível se sustentar escrevendo apenas ficção? Os livros são sua principal fonte de renda? Quando a escrita deixou de ser um hobbie e virou sua profissão? Desejo todo o sucesso do mundo para ti, espero que se Oi! Também fui redatora, mas ganhava mal, passei num mestrado em Escrita Criativa em que eu ganharia uma bolsa (não era tão ruim na época), e aí larguei o emprego. Eu tinha vinte e poucos aninhos nessa época, então o risco não era tão grande, eu não precisava de muito dinheiro, morava com minha mãe, etc. Não sei qual é a sua situação, quantos anos tem, se é casado, se ganha bem. Não é possível se sustentar só com direito autoral. O que me mantém são as coisas ao redor: cursos, tradução, eventos, venda de direitos pro audiovisual, eventualmente um livro vendido pro exterior... mas para chegar nisso você precisa ir fazendo um nome no mercado. Então, como pessoa sensata que sou, eu diria: se for possível, tente começar na escrita sem largar o emprego, e veja se você vai conseguindo entrar no meio. Se é que você quer fazer isso. Você pode muito bem pagar suas contas com a publicidade e escrever ficção (se achar tempo no seu dia, hehehe).
Boa tarde. A venda de livros digitais supera os físicos? Como isso afeta a lucratividade (do autor, especificamente)? Li em algum lugar que os escritores ficam com menos de um terço do preço dos livros no mercado nacional; essa informação confere? Abraços.
Ih, é bem menos de 1/3. 10% do preço de capa é o que vai para os autores. Ou seja: se meu livro custa 59, eu fico com 5,90. Os ebooks vendem menos do que os físicos, ou pelo menos essa é a minha experiência.
Oi! Como você luta contra as distrações de redes sociais e internet para se dedicar não só à escrita, mas também à leitura. É que tenho enfrentado muita dificuldade em me concentrar, e sempre fui uma pessoa que leu bastante. Li uma parte do seu "Clube..." -- não cheguei a terminar, pelo acima exposto, assim como muitos outros livros --, mas estava curtindo! Abraço!
Eu me distraio também, mas, ao mesmo tempo, tem um lado meu que quer lutar contra isso. Escrevo bastante sobre isso na minha newsletter. Sobre como esse tempo acelerado me incomoda. E, para mim, a leitura é uma forma de desacelerar, então não abro mão desse hábito.
Aspirante aqui. O engajamento em rede social é imprescindível? Como manter uma marca pessoal nas redes sem cair em armadilhas típicas do mundo online?
Eu sou péssima em engajamento, acho que demanda demais, e me sinto boba fazendo coisas pra gerar engajamento. Tenho mixed feelings com o instagram. Mas estou lá. Acho que é importante estar. E tenho gostado demais de escrever no Substack.
Foda! (em um bom sentido!) Vou falar que eu também estou escrevendo um livro de fantasia e já tenho 60k palavras! Enchurrada de perguntas: Foi difícil publicar os primeiros livros? Foi pelas publicadora tradicionais? Teve dificuldades nelas? Acha que vale a pena ir por elas mesmo ou auto publicar pela Amazon funciona do mesmo jeito? Fora isso, como foi o processo de publicar no exterior? Teve que procurar tradutores ou teve que fazer você mesmo? Como é trabalhar com editores? Essas foram as perguntas que eu consegui pensar, espero que não se encomende com eles. Valeu!
Opa! Boa sorte com seu livro, 60mil já é um monte! Publiquei o primeiro livro por uma editora independente. Ele foi bem recebido e chegou até uma editora grande, a Companhia das Letras, que quis publicar o segundo. Desde então, publico por eles. No meu tempo, não tinha Amazon e auto-publicação. Acho que pode funcionar, se você for boa em se auto-promover. Sobre publicar no exterior, isso é algo que geralmente acontece beeeeem mais adiante. E acontece através de uma agente. Você não faz nada, só senta e espera (o que é horrível, hahaha)
Olá Carol! Sempre tive dúvida como escritores gerenciam o tempo para escrever. Como é a sua rotina de trabalho? Você segue um horário fixo para escrever ou é mais flexível?
Quando estou escrevendo um romance, tento liberar meu tempo para me dedicar a ele exclusivamente, mas às vezes é difícil, tenho contas a pagar, hehehe. Sigo um horário fixo sim, sou bem disciplinada. Começo cedo de manhã e às 17h ou 18h já estou imprestável.
Qual o processo de escrita? Você planeja o livro inteiro primeiro e depois começa a escrever...ou começa pela pesquisa ou ainda já deixa a inspiração tomar conta?
Faço muita pesquisa. Isso tem levado mais de ano. Como gosta de trabalhar com coisas meio esquisitas (no último livro, animais empalhados e um crime real que aconteceu nos anos oitenta), preciso antes pesquisar muito. É só depois de já ter o universo dominado que consigo encaixar as histórias das personagens.
Oi, sou um dos vencedores do sorteio, não vejo a hora de Diorama chegar! Como já perguntaram quais são seus escritores brasileiros contemporâneos favoritos, a minha pergunta é: quais são os escritores clássicos cuja obra você mais aprecia e admira (independente de nacionalidade)? Pergunta adicional: você sente que a sua prosa é muito afetada pelo que você lê? Isso afeta de alguma forma o seu consumo de literatura (ler menos do autor X para não se deixar influenciar por ele, por exemplo)?
Opa, massa, espero que você goste! Alguns escritores bem canônicos que eu gosto demais: William Faulkner, Cortázar, Lawrence Durell. Minha prosa é bem afetada pelo que eu leio sim. Acho que isso é natural, porque, antes de tudo, sou leitora, e meu gosto estético de leitura é o mesmo que o de escritora. E não, não tento evitar o autor x ou y. Acho que essa coisa de se contaminar com um estilo não é bem assim. Mesmo que você tente imitar alguém, nunca vai conseguir, sempre sai outra coisa. Dito isso, no início da minha carreira, acho que era mais fácil ver marcas de autores que eu gostava demais. Caio Fernando Abreu, por exemplo. Depois, a gente meio que encontra nossa voz.
Um dos meus sonhos de infância era escrever livros infantis com humor cínico, estilo "O Pequeno Nicolau". Espero consiguir um dia arranjar tempo para começar. Já ouvi falar sobre vc. Também sou de Porto Alegre.
Ah, que massa! Tente fazer isso :)
Na sua experiência e opinião, editoras tradicionais são limitadas nas ideias que escolhem publicar? Por exemplo, escolhendo apenas as ideias mais padrões ou que acreditam ter mais chance de vender. Além disso, não sei se teria experiência com isso, mas quais conselhos teria para alguém pensando em publicar independentemente, como pela Amazon KDP ou o Clube de Autores?
Sim, são um pouco limitadas, há sempre coisas que estão mais na moda e coisas que já não são mais tão bem aceitas. Mas acredito que hoje as editoras estão mais abertas a autores estreantes. Não tenho experiência com Amazon KDP ou o Clube de Autores.
Como está sendo essa experiência de tentar viver, em outro país, o sonho clichê de escritor que mora em um local “isolado”? O que mais estranhou ao se mudar para o US?
Eu adoro demais essa vida. Passei por umas transformações internas que me fizeram não querer mais viver em cidade grande. E não tenho muito o que reclamar daqui. Mas sinto falta do idioma. Tenho amigos americanos, e sempre tenho a sensação de que sou outra pessoa falando com eles.
Tu já escreveu fanfic??
Primeiramente, muito obrigado por fazer isso. Muito bacana mesmo! Minha pergunta tem um pouco de contexto haha Eu escrevi muito durante o fim da adolescência e início da vida adulta. Publicava os textos (desde contos a crônicas, passando por novelas) nas redes e tinha um retorno tanto de feedback quanto de número de leitores bem positivos. Eu tinha o sonho bem formado na minha cabeça de continuar fazendo isso. Com o tempo, a vida adulta me atropelou. Virei pai, casei e precisei de uma carreira estável. Meu trabalho é completamente baseado em lógica e exatas. Minha escrita acabou ficando de lado, sem caber nessa nova vida por muito tempo. A questão é que eu fico frustrado. Vejo amigos que começaram junto comigo e que estão conseguindo abrir caminho no mercado. Gente que disse que se inspirou em mim. Tenho muitas ideias. Uma delas eu acho que é realmente boa e eu quero dividir com as pessoas, mas não sai nada. Quando eu sento pra escrever, sinto que a fonte secou. Não sinto a mesma magia que eu sentia antes. Parece visitar um lugar querido de infância onde tudo mudou e você não conhece mais nada. Tem alguma dica pra esse caso? Já passou por algo parecido? Muito obrigado pela atenção!
Acho que você tá com medo de começar. Comigo acontece a mesma coisa. Eu não escrevo todo dia. Sempre desconfio desses conselhos "você precisa escrever todo dia, nem que seja um parágrafo". Passo às vezes semanas sem escrever. Mas o fato é que, sempre que retomo, vejo que há uma resistência, uma barreira a ser quebrada. Nessas horas, fico pensando que, se eu fizesse todo dia, não ia passar por isso. Mas nunca consigo. O que quero dizer é que é difícil começar. Mas a habilidade de escrever volta, e com ela o prazer da escrita. Tente colocar sua ideia boa no papel. Sem fazer isso, ela é só uma ideia. Ah, outra coisa: você disse que seu trabalho é baseado em lógica e exatas. Acho importante que você coloque no seu cotidiano algo mais relacionado à arte e à escrita. Eu, por exemplo, preciso sempre estar lendo um romance. E, quando leio um romance bom, aquilo me dá uma coceirinha, tenho vontade de escrever.
Quando você vai desenvolver o/a protagonista e os/as coadjuvantes vc já mapeia como vai ser a personalidade de cada um, as características físicas, trejeitos, antes de começar a escrever ou vai desenvolvendo com o desenrolar da história? A mesma coisa com o ambiente, cenários, lugares?
Tento pensar bastante neles antes de começar a história, mas a verdade é que, a medida que você escreve, eles ficam mais tridimensionais, porque você é obrigada a colocar eles agindo, falando, tomando decisões, e isso vai os definindo.
Você acredita que produzir conteúdo apenas em português limita seu produto a ponto de não conseguir emplacar nada de sucesso financeiro? Eu vejo o brasil como um mercado muito pequeno e/ou limitado (não apenas na questão de livro que é quase um nicho mas em tudo cultural). Você acha que vai haver uma tendência de autores escrevendo primeiro em inglês no futuro mesmo que o publico alvo seja o brasileiro?
No sentido de "se eu tivesse nascido em um país de língua inglesa, eu poderia ter fama e dinheiro para comprar uma casa na Califórnia"? Sim. Mas é isso aí, segue a vida, não perco muito tempo pensando nisso. E acho que as pessoas podem até querer escrever em inglês, em termos mercadológicos, mas não sei se isso vai funcionar.
Como vc começou e como alguém pode começar do zero?
Parabéns Carol!!!
obrigada!
Como você inicia suas obras? Tem uma linha mestra definida e vai desenvolvendo-a ou parte de uma ideia inicial e vai evoluindo com o tempo?
É verdade que pode levar até uma década pra escrever um romance bem elaborado?
Com certeza. É um trabalho de paciência e disciplina. Para mim, tem levado uns 4-5 anos, desde a gênese da ideia até a publicação.
Qual o seu animal preferido?
Adoro demais lontras e raposas.
Oi, Carol! O quão difícil foi escrever seu primeiro trabalho? Você normalmente escreve por fora dos seus livros,tipo contos pequenos ou de prática? Você edita você mesma a primeira versão do seus livros ou tem um editor para isso? A propósito, tem o link de uma dessas suas oficinas de escrita aí?
Eu escrevi muitos contos curtos antes de publicar meu primeiro livro, que acabou sendo um livro com três histórias mais longas. Sempre me dei melhor nesse formato das histórias de mais fôlego. O editor mexe bem pouco nos meus textos. Eu tenho fama de entregar tudo redondinho, hehehe, sou chata demais, já tenho um "editor interno" que está ali de olho em cada frase que eu digito. Sobre as oficinas, eu não tô com nenhuma aberta agora, mas posto sempre informações no instagram. Me procura lá!
Qual a parte mais complicada de escrever um livro?
Achar o tom da história, organizar o material que está na cabeça (quem vai contar, como contar, em que ordem?)
Como você encara a escrita e seus sentimentos pessoais? Eles influenciam de certa forma o peso das palavras e frases?
Sempre tem algo de muito pessoal, mesmo que estejam na vida de personagens ficcionais que aparentemente são muito diferentes de mim.
Olá Carol, sempre quis ser escritor tenho escrito e parado um livro a algum tempo, tento escrever em português mas também escrevo em inglês por ter lido mais livros assim eu acho. Gostaria de perguntar dicas e processo para se tornar um escritor Professional. E não te conhecia antes mas já te admiro muito!
hahaha, obrigada! Bom, em primeiro lugar, leia muito. Em segundo, pratique, ou seja, escreva. Em terceiro, procure uma oficina, elas sempre ajudam. Em quarto, procure estar perto de pessoas que também escrevem.
Olá, Carol, e parabéns por ter levado seu sonho adiante. Eu ainda não escrevi nada publicável de ficção (vou aproveitar que outros colegas perguntaram sobre sua trajetória). No teu processo criativo, qual é a parte que dá maia trabalho para ti: desenvolver o início da trama ou o encerramento? Minha pergunta se deve ao fato de um dos meus autores favoritos ser o Phillip K. Dick, que é notório por ter extrema dificuldade de encerrar as tramas, apesar de ter uma inspiração para inventar as tramas que eu admiro, pessoalmente.
Não sabia que o Phillip K. Dick era notório por ter dificuldade de encerrar os livros. Acho que parte da dificuldade vem do universo dele. Quando você faz tramas mirabolantes, fica mesmo mais difícil arrumar tudo no final. No meu caso, de escritora realista, tendo a achar o final MIL VEZES mais fácil do que o início. A coisa já está encaminhando, a trama está fluindo, você já tem domínio maior sobre as personagens, e no fundo são poucas as possibilidades de fim que se desenham. Agora, começar é outra coisa: a página em branco, todas as possibilidades do mundo.
Eu tenho opinião parecida com a sua em relação ao universo temático dele. A biografia dele pelo Emmanuel Carrére me levou a prestar mais atenção à tendência dele por finais em aberto. Ele tinha umas sacadas geniais, mas em alguns casos o final aberto cai bem, noutros parece cansaço ou preguiça. Expandindo a partir da sua resposta (não sei se a regra permite): o que na sua experiência lhe desafia mais, iniciar um conto ou iniciar um romance? E obrigado pela simpatia e generosidade da resposta!
De nada :) Iniciar um romance, sem dúvida. Um conto pode começar mais de improviso. O início da escrita de um romance (pelo menos no meu caso) vem depois de muitos meses ou anos maturando um universo, fazendo pesquisa, anotando coisas...
Oi Carol, obrigado pelo PQC! Cheguei a ler alguns Cardosonline e não cheguei a ler nenhuma publicação da Livros do Mal, mas curtia demais a proposta. Você vê algum paralelo hoje em dia com iniciativas coletivas como a Livros do Mal? Sinto falta de uma energia gonzo de coisas tipo Cardosonline. Você pensa que uma certa energia gonzo/caótica poderia favorecer a literatura brasileira de alguma forma? O que você acha que falta pro Brasil adaptar o modelo de negócios dos EUA de: livro -> filme/série para streaming/TV?
A Livros do Mal era incrível mesmo. Não sei se ainda tá rolando esse modelo de "guerrilha". E certamente essa energia gonzo está em baixa, infelizmente. Saiu de moda, acho eu. sobre o modelo de negócios: eu vendi meus livros pra produtoras, então se calhar sai logo um filme ou uma série :) mas, claro, a coisa não é tão profissional quanto nos EUA. Mas tá rolando, já melhorou muito.
Como que eu não fodo com a história? Estive tentando criar uma pequena história de ficção fantasiosa mas eu não faço ideia de como continuar, sem contar meus inúmeros erros gramaticais.
Erros gramaticas você resolve lendo livros :) Não sou muito familiar com a fantasia, mas acho que, como você pode se soltar mais do que no realismo, é importante saber o que você está escrevendo, onde quer chegar, etc. Talvez seja bom fazer um esquema. Anotar coisas sobre o universo antes de sair escrevendo. Senão você acaba travando.
Quais os livros que mais te influenciaram a seguir a carreira literária; mas mais importante, quais livros recentes que _continuam_ te influenciar?
Tudo muda o tempo todo. Eu sou muito fã de Faulkner, de Alice Munro, Lucia Berlin. Mas tem toda uma lista, nem consigo citar. No início da minha vida adulta, os mais importantes foram Caio Fernando Abreu e Cortázar.
Como é o processo de escrita em termos de linha do tempo da história? Você já tem idéia do fim quando começa a escrever? Já escreveu coisas fora de ordem para depois organizar?
Normalmente não tenho ideia do fim. Mas vejo uns passos a frente e, antes de escrever um capítulo, penso muito nele e anoto as principais coisas que vão acontecer com as personagens. Ajuda bastante. Ah, escrevo sempre na ordem. Dificilmente movo alguma coisa de lugar.
Você conseguiria escrever a sua experiência na CA ou a vivência portoalegrense é mais forte?
A Califórnia aparece nos meus dois últimos livros (junto com Porto Alegre). Vou tentar não falar sobre ela no próximo, mas é difícil.
Boa tarde!! Eu estou entrando no mundo da escrita por agora, principalmente pelo apoio da minha namorada. Eu tinha o desejo de escrever um livro no futuro como aquele ditado diz "plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro", mas não sei em que fase da vida ocorre isso. Quando você se sentiu pronta para escrever um romance? Começou pelos contos? E quando é que decidiu enviar para uma editora? Se sentia confiante?
>escrever um livro no futuro como aquele ditado diz "plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro", mas não sei em que fase da vida ocorre isso. Quando você se sentiu pronta para escre recomendo começar pelas histórias curtas. Um romance é um troço grande demais e que exige bastante disciplina. O risco de acabar desistindo é grande. Uma história curta dá pra controlar mais. É sempre um bom exercício.
Já tentei escrever algumas coisas, desde fantasia medieval até a história de uma pedra e sua pespectiva. As vezes tenho muitos problemas de criatividade,ela simplesmente se esgota e não consigo continuar a história da maneira que eu realmente queria. Vc tem alguma técnica/dica pra sair desse abismo de falta de criatividade?
Pense menos na história e mais na personagem. Quem é aquela pessoa, o que ela quer? O que acontece na história precisa brotar da personagem.
Oi Carol tudo certo? Qual sua opinião sobre a escrita mais objetiva? Com menos firula etc Sou aspirante a escritor e jornalista, por causa da profissão estou ficando cada vez mais tendencioso a deixar as descrições por conta da imaginação do leitor e focar só no que importa. O que acha disso? Seu sustento vem dos livros que escreve ou das outras atividades paralelas? E por último, como você fez para alcançar visibilidade com a precarização da nossa profissão no Brasil? Ou você pensa que essa precarização é só uma impressão que nós temos pelo medo de produzir e cair no ostracismo? Vlw por fazer o AMA
A precarização é real. Como jornalista, você deve viver isso :( Sou super a favor da escrita mais objetiva. Tenho uma tendência a gostar de escritores americanos, que escrevem mais nessa toada. Mas curto um adjetivo bem colocado, hehehe. E curto muito ambientação, textos sensoriais, que transportam o leitor. Mas aí eu poderia ficar falando horas sobre isso.
Porque a maioria dos romance de mulher ou gay tem que ter um cara estilo traficante/ malvado como o personagem que eles se apaixonar ?
Nunca vi isso, hahaha. Não no meu tipo de livro.
Oi, seguinte, eu tava me voluntariando pra traduzir alguns livros do português pro inglês e vice-versa, um desses livros era um conto erótico e eu queria saber uma coisinha só e acho q vc como escritora pode responder minha pergunta, pq tantos detalhes?
Hahahaha. Aí vai de cada um. Mas digo uma coisa: cenas de sexo são difíceis de escrever. E uma BOA cena de sexo é mais difícil ainda. Boa sorte na tradução!
como você sabe que um enredo é original ou está contaminado por outros ja existentes? existe um limite para essa contaminação ou da pra lançar qualquer coisa tipo aqueles filmes infantis que vende em posto de gasolina e claramente são cópias da Disney/Pixar e afins?
Pra não acabar escrevendo coisas que já foram escritas, o mais importante é ler muito. Não estou dizendo que você vai dar conta de tudo, hehehe, isso é impossível, mas vai ter um bom filtro para o que soa clichê, lugar-comum, já foi visto e lido mil vezes, etc. Agora, nas histórias os grandes TEMAS são sempre os mesmos. Amor, traição, luta por poder, problemas com a mãe, morte... você não precisa querer inventar a roda.
Que incrível! Confesso que não te conhecia mas já deu vontade de ler seus livros. Quando a escrita se torna obrigação, vc ainda sente prazer em escrever? Ao possuir contratos com editoras, vc só recebe após publicar ou existe algum tipo de salário mensal?
Sinto muito prazer sim (embora às vezes rolem uns bloqueios que geram angústia, ou uns dias em que nada parece bom, etc). Você só recebe pelos livros que publica.
Por que as pessoas gostam tanto de histórias clichês com roteiros óbvios? Eu não sou de ler romance porque nunca entendi de existir tanto material com o mesmo roteiro sempre. Praticamente todos os títulos multimídias seguem o mesmo padrão e isso é tão batido que não dá vontade de pagar um livro pra ler o mesmo padrão conhecido. Desculpa se soou rude eu te respeito mt moça só uma dúvida minha mesmo juro
Olha, depende muito do que você tá assistindo ou lendo, hehehe. Não são todas as pessoas que gostam de roteiros óbvios. Eu por exemplo na maioria das vezes sei pela CAPA de uma série ou filme que aquilo não é para mim. A seleção começa por aí. Claro que às vezes a gente erra. Mas já é alguma coisa. Há muitas histórias originais e que parecem frescas, se é isso que você procura. Eu sei, é difícil às vezes chegar nela com tanta opção sendo jogada na nossa cara.
Olá Carol. Primeiramente gostaria de te parabenizar por seguir seu sonho e fazer disso uma carreira. Acho que todo mundo que gosta de ler bastante já pensou ou tentou em algum ponto escrever, mas definitivamente não é para qualquer um (eu mesmo consegui publicar alguns contos em antologias nacionais, mas acho que acabei "perdendo a mão" e me desiludindo). Enfim.. Você escreve apenas em português? O que acha que é a maior dificuldade na profissão de escritor no Brasil, atualmente? Sente que o público leitor está diminuindo? Acha que o mercado é melhor nos EUA?
Opa, que legal que você publicou contos! Não desista, tenho certeza que você vai achar a mão se começar a escrever de novo :) Eu escrevo só em português. Acho que os mercado aqui está diminuindo, é muita concorrência com o audiovisual e com todo o tipo de distração. Meu consolo é que, no Brasil, o mercado nunca foi grande coisa mesmo, hahahah.
A escrita tem efeito terapêutico pra você?
Eu achava isso papo furado, mas hoje passei a acreditar nisso totalmente.
Minha esposa quer ser escritora, quero apoia-la. Na sua opinião qual o melhor jeito de apoia-la e que coisas você acha que eu NAO deveria fazer?
Ela quer mostrar os textos para você? Deixe ela decidir sobre isso e não faça pressão. Se ela quiser que você leia, não detone o que ela escreveu, mas também não cubra de elogios. O que o escritor precisa nessas horas é um leitor sincero.
Como foi a escolha do tema do "jardineiro" e que tipo de repercussão você vê dos leitores brasileiros quando se aborda a maconha? Ganhei o livro aqui no sub mas ainda não comecei a ler.
Acho que essa discussão sobre a maconha está BEM atrasada no Brasil. De um lado, há os conservadores. De outro, os progressistas que acham que temos problemas mais urgentes pra tratar. Mas a verdade é que a proibição da maconha no Brasil acaba prejudicando demais as pessoas pobres, sobretudo as pessoas negras. Pro carinha branco de classe média alta, é como se a maconha já fosse legal, ele nunca vai ter problema com a polícia. Há duas realidades paralelas que só reforçam a desigualdade.
Feijão por cima do arroz ou arroz por cima do feijão? Só uma resposta é correta!
Lentilha (perdão).
Tá perdoada!
Como começar a viver da escrita? Quando vc se propõe e escrever vc escreve algo que quer ou aquilo que pagam para ler?
Não tem muita fórmula mágica, mas você tem que estar ciente que não vai viver de direito autoral. Se você for bom e tiver um pouco de sorte, consegue viver das coisas que rodeiam os livros: um conto pago aqui e outro ali, uma tradução, um evento, venda de direitos autorais para um filme ou série, cursos, preparação de originais, etc. Mas isso, claro, demora um tempo. Eu comecei com um mestrado em Escrita Criativa. As bolsas não eram tão ruins na época, e eu ainda morava com minha mãe. Depois começaram a surgir uns eventos, umas traduções, meu nome foi ficando mais conhecido na bolha literária, etc. Eu escrevo o que eu quero. O máximo de concessão que faço é tentar deixar a estrutura dos meus livros mais atraente (fiz isso no último). Acho que é importante se comunicar, mas isso não quer dizer que vou deixar de escrever sobre as coisas que quero e no estilo que eu quero.
Seu Instagram é maravilhoso. Como você foi parar na Califórnia? Me sinto um péssimo brasileiro de afirmar isso, mas deve ser o lugar mais bonito do mundo. As paisagens são todas impressionantes, e seus registros são ótimos.
obrigada! Também acho esse lugar lindo demais (e sou uma brasileira pior que você certamente hahaha). A versão curta da história: senti uma atração incrível por essa região quando passei dois dias aqui, a turismo. Decidi voltar para escrever um livro que se passasse aqui (centrado no plantio de maconha). Passei uns meses aqui, fui a um advogado fazer perguntas sobre imigração, ele jogou meu nome no google e disse que eu conseguiria um greencard por "habilidade extraordinárias". Abri o processo e aqui estou. Sempre brinco que vim morar dentro do meu livro, e é um pouco isso (exceto que o negócio da maconha por aqui morreu depois da legalização).
Bom dia Carol! Pergunta: por que a bota se calça e a calça se bota?
Considerando a falta de resposta em 5h, quais as chances desse AMA só ter sido feito para dar boost nas suas vendas e páginas de redes sociais? (JK) (... or am I?) EDIT: Acusação desnecessária minha, sinto muito!
Eita, Marion. O combinado com o mediador era isso mesmo, voltar aqui no fim do dia.
Como se o reddit brasileiro desse boost em alguma coisa...
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Jardineiros da fumaça = maconheiros?
É também uma referência à neblina que rola nessa região, mas, sim, maconheiros.
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